Fator de segurança

Nos anos de escuridão em um país chamado Brasil, o futebol foi considerado fator de segurança nacional.

Funcionava o entendimento, nos meios governamentais, de que a magia e a paixão desse jogo, tinha o poder de fazer o brasileiro feliz e alheio aos problemas.

Era como se funcionasse, mesmo, como uma religião, na sua função de consolar e, vejam só, dar um sentido mais alegre à vida.

Por isso mesmo, ensaiou-se uma torcida contra a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1970, por conclusão de alguns estratos de oposição política, à época, de que a vitória verde amarela beneficiaria o regime militar.

Tão logo a bola rolou, o maior escrete brasileiro de todos os tempos passou a encantar o mundo, dissipando-se, rapidamente, o desejo de que aquele time fosse derrotado.

Aí, ninguém segurou o “Prá frente, Brasil” de Miguel Gustavo, colocando “noventa milhões em ação”.

Inegável que a ditadura tirou a sua “casquinha”, com a conquista do tricampeonato.

Se deu então, à época, que os idiotas que perderam a modéstia, fecharam questão ao julgar o futebol um fator, não só de segurança, mas, também, de alienação.

Reconhecemos que o futebol, como outra prática esportiva qualquer, possa ser usado para tal fim. Isto não significa, no entanto, que sua essência seja alienante.

A partir do grau de importância obtido pelo jogo inventado pelos ingleses e, aperfeiçoado pelos brasileiros, passou-se a imaginar que o futebol deveria ser modelo para resolver outros problemas da Nação.

Nada disso. O futebol foi, e deve ser sempre, importante em outras dimensões da vida moderna: pelo aperfeiçoamento da condição física, o gosto pela disputa, o despertar de nossas possibilidades motoras, o simbolismo e, principalmente, por ser um lugar social indispensável para o brasileiro.

Apesar do gangsterismo dos dirigentes e de uma certa desumanização pela indústria do espetáculo, o futebol continua na sua missão de encantamento das grandes plateias.