Sou do tempo em que futebol de campo era "de poeira".
E uma modalidade, realmente, de inclusão.
Época em que os "estádios" eram cercados de palha e aveloz.
A marcação de cal do campo de jogo era chamada de "farinha do hôme".
Quando os jogos reuniam equipes de bairros e sítios das cidades, a festa era completa e as confusões poucas.
Os times chegavam em cima de caminhões, misturados com as torcidas.
Em redor do campo de jogo, sem alambrado, vendia-se todo tipo de iguaria: bolo, rolete de cana, picolé, laranja descascada e até cachaça com Cinzano, o conhecido "rabo de galo".
Futebol era coisa do povo. Não se conhecia nem a palavra gentrificação.
O meia-esquerda do Nacional do Crato, pertencente ao mecânico Gecildo Rodrigues, se chamava Zé de Miralva, que depois passou a ser conhecido como Fruta-pão, titular de equipes da primeira divisão e seleção cratense.
Um dos times (não me recordo o nome) tinha como ralf-volante Zé Cagão, cuja maior preocupação era com a cabeleira, cheia de brilhantina.
No Crato, onde defendi América (foto) e Nacional (nesse, era reserva), as partidas eram jogadas, pela manhã, nos campos do Alto do Seminário, do Cariri e da Rua da Cruz (bairro São Miguel).
Ainda hoje, sinto aquela atmosfera de intensa felicidade.
Na foto acima, o América do Crato, em 1963. Em pé, da esquerda para a direita: Laércio, Itamar, Bicudo, Orobó, Pivete, Joãozinho e Duda. Agachados: Fernando, Maninho, Paivinha, Louro e o autor da crônica, Wilton Bezerra, ponta esquerda e "dono da bola".