Digressões

Se eu não falar sobre mim, quem o fará ?

Frequentemente me flagro agarrado no passado filtrando algumas passagens.

Da minha cabeça começam a sair lembranças de montão sem preocupação com datas.

Penso e pinta na tela.

Fui gerado em Várzea da Conceição (Cedro-Ce) e foi lá que nasci mesmo.

Nesse tempo, as gestantes traçavam galinha caipira com pirão para ganhar sustânça.

Minha mãe, Dona Deusdideth, deve ter feito, também, essa dieta. 

Meu estômago não foi da miséria.

Na nossa casa se comia muito quando se tinha muita comida.

Se comia pouco quando a ração era pouca.

Era um critério adotado por Seu  Martins, meu pai, homem de "barriga cheia" como se dizia.

Nosso caviar era de ova de curimatã, uma delícia.

Minha chegada ao Cariri, desembarcando no Crato, teve como fundo musical "Boneca Cobiçada" com Palmeira e Biá. 

Gosto muito do Crato e adoro Juazeiro.

Morei trinta anos de minha vida no interior onde o calor  humano é maior.
O clima da Copa do Mundo conquistado pelo Brasil na Suécia ocupou mentes e corações, bem no começo da jornada.

Me enrabichei pelo rádio, onde cheguei de calças curtas.

Virei cronista esportivo embora os planos fossem ser jogador de futebol ou sanfoneiro.

Não deixei o Cariri no último pau de arara.

Com a mulher e uma recua de filhos, cheguei a Fortaleza num fusca de cor azul que os amigos chamavam de "caixão de anjo.

Quando conheci o mar (viagens anteriores) dei o maior valor.

Para conseguir uma morada e dar "de comer" a família, fiz mais de vinte viagens.

Resisti bem aos obstáculo e nunca entreguei o jogo no segundo tempo.

Conheci políticos mas deles precisei muito pouco. 

Hoje, o ritmo diminuiu muito e só saio de casa para o trabalho ou para olhar o mar.

Até aqui estou no lucro.

É isso.