Quando se discute caminhos para o futebol brasileiro, meto a minha colher no assunto ao reconhecer que o principal problema está na distribuição do dinheiro.
Não há aqui nenhum clamor para que se retire receita das grandes equipes na divisão das cotas, pelo reconhecimento de que elas potencializam os campeonatos.
Ocorre que a concentração da grana em poucas equipes estabelece uma distância abissal entre grandes e pequenos.
Isso resulta naquilo que se chama monopólio dos mais poderosos, gerando a desigualdade. Todo monopólio é predador.
Para o campeonato brasileiro desta temporada, se falou muito no modelo aplicado pela Liga Inglesa, muito mais justo no rateio do dinheiro.
Mas, como se sabe, no futebol da CBF ainda estamos a discutir problemas primários, situações básicas em estruturação.
Semana passada, o jornalista Miguel Delaney do jornal “The Independent”, publicou reportagem sobre a desigualdade no futebol, vaticinando que a concentração de dinheiro, em poucos clubes, está matando o futebol europeu.
Antes de se considerar que a conclusão é alarmista, devemos nos animar em ler uma parte dos dados da matéria.
Entre 2010 e 2019, as três ligas mais importantes do continente – Espanha, Inglaterra e Itália – tiveram um campeão com 100 pontos. Isto nunca tinha acontecido.
Houve campeões invictos em Portugal, Itália, Escócia e em sete outras ligas. Pela primeira vez, em mais de 40 anos, a Liga dos Campeões teve um tricampeão e as goleadas se tornaram banais.
Real Madrid e Barcelona venceram 37% de suas partidas por mais de três gols de diferença, o dobro de 2000-2009.
O Bayern de Munique ganhou os últimos sete campeonatos nacionais e a Juventus vem de oito italianos seguidos.
Para quem se aborrece com essa situação, os clubes ricaços ameaçam com uma “superliga”, uma espécie de NBA do futebol, fechada para intrusos menos atrativos.
O aumento de dinheiro circulando no futebol ficou restrito à Europa porque nos últimos 30 anos a cartolagem sul-americana (Brasil incluído) estava mais interessada em encher seus próprios bolsos.
Segundo Delaney, o futebol moderno vai quebrar por falta de equilíbrio em campo, num ciclo que não vai ser interrompido.
Enfim, as desigualdades são nocivas e letais, tanto na vida como no futebol.
Um assunto para demorada meditação