Como esporte, o futebol cria o gosto pela disputa, desperta as nossas possibilidades lúdicas e motoras e é importante agente de transformação e formação do homem.
Neste país descoberto por acaso, os nossos craques desenvolviam memória cerebral jogando nas calçadas, na várzea e nos campinhos esburacados.
Habilidades individuais advindas dos curtos espaços em rachas, locais de inclusão destinados ao futebol.
Essa narrativa nos ajuda a entender porque o Brasil pontificou mundialmente nessa modalidade, ancorado na qualidade individual dos seus jogadores.
No inicio da crônica, abordamos o aspecto da formação inicial dos nossos valores para chegar aos dias de hoje.
Ao invés de representar uma brincadeira para crianças, o futebol assemelha-se cada vez mais a uma indústria com linhas de produção.
O que deveria ser um sonho das crianças - tornar-se um atleta profissional de sucesso - é, agora, com todas as letras, um sonho dos pais.
Em torno de guris de menos de dez anos, forma-se uma equipe munida de assessores de imprensa, nutricionistas, preparadores físicos e técnicos, com o fito de criar futuros e milionários ídolos, numa atividade juvenil que deveria se dedicar apenas ao lúdico.
Carregada de obrigações fora de tempo, a criançada vai adquirindo vícios de adultos que enxergam o futebol como uma guerra, lugar onde é proibido perder.
As abjeções não param por aí.
É comum nas mesas redondas de rádio e televisão se reclamar da falta de qualidade do futebol jogado no Brasil.
Numa adulteração da essência de nossas características futebolísticas, depois do recorrente “mata a jogada”, temos agora nas formações de base uma nova orientação no sentido de “saber sofrer”.
Abjeta formação.