A inteligência dos eleitos

Os deuses dos estádios nos ajudam a encontrar caminhos para explicar o futebol, por meio dos seus escolhidos: os craques. São esses eleitos que possibilitam naturalizar os absurdos.

Como afirmei em comentários passados, o futebol tem o seu caráter lúdico e entrópico (palavrinha pedante), indo além, quando se conclui que a sua narrativa não é binária.

“O que é isso, prezado escriba?” Vê se dá para entender: no futebol, o que parece ser errado é o certo, e vice-versa versa.

Quando tentei entender o palavreado (confesso que não consegui, completamente), encontrei amparo num trecho de crônica do ex-craque Tostão, referindo-se ao mais bonito gol marcado em Copa do Mundo: o de Maradona, contra a Inglaterra, na Copa de 1986, no México.

O craque argentino Valdano, hoje, comentarista esportivo da imprensa espanhola, disse que Maradona lhe contou que, quando recebeu a bola no próprio campo, pensou passá-la ao companheiro.

Apareceu um inglês em sua frente e ele foi obrigado a dribá-lo. Quando quis dar o passe, outro inglês surgiu à sua frente, e ele teve que driblar, novamente.

E, daí, ocorreu uma sucessão de dribles, inclusive, no goleiro, até o gol, celebrando a união do talento e do acaso..

Isto é, este lance de aparente egoísmo realizou aquele objetivo fundamental: o gol.

Numa hora dessa, o jogador está a um passo de ser vilão ou herói. É, aí, onde entra a inteligência cinestésica, possível somente aos “eleitos” pelos deuses do futebol, os craques.

Essa inteligência permite a capacidade de calcular espaço, tempo, movimento de bola e jogadores, tudo processado em segundos.

O craque é aquele que sabe o momento certo de fazer as coisas, confiante em sua habilidade e capacidade de escolher atalhos.