De dois em dois anos surge o mesmo questionamento entre eleitores: “Minha cidade tem um milhão de pessoas e a pesquisa eleitoral ouviu só 500 delas. Como isso pode funcionar?”. Ou então: “Eu nunca fui entrevistado por nenhum desses institutos. Não acredito em pesquisa”.
Os questionamentos também surgem dos candidatos na disputa majoritária. Conforme o resultado do levantamento, os números podem ser utilizados por eles a favor da campanha ou descredibilizados publicamente.
Do ponto de vista do eleitor, muitas vezes, em um cenário social, o desconhecimento leva à incredulidade — ou seja, à falta de fé naquilo que se vê.
Ainda mais nestes tempos de pandemia, em que a ciência é contestada a todo custo.
A falta de conhecimento leva ao preconceito. Ou melhor, a um conceito prévio, que é quando não há o aprofundamento da questão que está sendo debatida. E a pesquisa eleitoral é um desses assuntos que frequentemente retornam à pauta do dia.
Antes de ir a campo para fazer o levantamento, o instituto de pesquisa toma como base dados oficiais. Por exemplo, a quantidade de pessoas que será entrevistada precisa seguir proporcionalmente o censo do País. Como há maioria de mulheres do que homens no Brasil, sempre há uma maior participação das mulheres nos levantamentos, por exemplo.
Esses dados, que têm como base o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seguem também o percentual da quantidade de jovens, adultos, idosos, além da proporção de moradores em cada região do País. É preciso inserir no campo a ser pesquisado, proporcionalmente à realidade atual, todos perfis dos eleitores — no caso de uma pesquisa eleitoral.
"Um fator importante é que a amostra a ser selecionada represente o mais fielmente a realidade, destacando algumas características importantes da população. Essa caracterização tem por objetivo incorporar as segmentações da população a fim de que o resultado do estudo seja estatisticamente confiável e aceitável", explica o professor Júlio Barros, do Departamento de Estatística e Matemática Aplicada Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará.
Na amostra, portanto, há a presença de todos os setores da sociedade de um País, de um Estado ou de um município para aquele levantamento. Cientificamente, há garantias de que a escolha desses dados para uma pesquisa traduzem a realidade.
É por esse motivo que os institutos não entrevistam todas as pessoas que irão votar, seja numa eleição presidencial, estadual ou municipal.
Como há um volume muito grande de votantes, esse tipo de entrevista individual não seria possível de ser realizada, inclusive pelo tempo que levaria até a conclusão da computação dos dados — desconfigurando a proposta inicial.
"Em Fortaleza, por exemplo, temos o total de 1.821.382 eleitores, segundo informações do TSE, e entrevistar cada um deles se tornaria um processo muito caro e demorado, por isso os institutos de pesquisa acabam entrevistando um número menor de pessoas, que seja representativo e selecionado de maneira aleatória, de maneira que os resultados obtidos na pesquisa não sejam enviesados", explica o Estatístico do Sistema Verdes Mares, Ozias Filho.
O fato de nem todas as pessoas serem entrevistadas não necessariamente leva insegurança ao resultado da pesquisa. É por isso que existe a margem de erro e o nível de confiança que são apresentados pelos veículos de comunicação no momento em que os números são apresentados.
Quanto maior a quantidade de entrevistas, menor é a margem de erro. É preciso reforçar, no entanto, que não há pesquisas sem margem de erro. Ela pode diminuir na medida em que a amostra cresce, mas nunca é desconsiderada em um levantamento, já que apenas uma parte do eleitorado é entrevistada.
As pesquisas de intenção de voto, como ficam mais em evidência no período eleitoral, não têm a proposta de acertar numericamente o resultado da eleição. Ela indica tendências e mostra como o cenário eleitoral está se desenhando ao longo do tempo. É por isso que mais de um levantamento é feito no primeiro e segundo turno.
O instituto pode apontar o crescimento ou a desidratação de uma candidatura dias antes do eleitor ir às urnas. Observada a tendência de crescimento, ou de queda na corrida eleitoral, a perspectiva temporal é que vai dar a possibilidade da análise global do cenário entre as candidaturas. Nesse caso, o instituto pode apresentar números distantes da realidade quando as urnas foram abertas.
Apesar disso, no geral não há erro nos números divulgados, já que a tendência é que tem que ser observada. Há casos, claro, em que os números se aproximam bastante, dentro da margem de erro. No entanto, os dados precisam ser analisados no contexto temporal e conforme a metodologia aplicada por aquele instituto.