Alvo de Zema, Nordeste comandou por 17 vezes o Senado e oito vezes a Câmara desde a redemocratização

Governador está incomodado com a "falta" de articulação política do Sul e Sudeste

A preocupação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), por uma melhor articulação política das regiões Sul e Sudeste do País em âmbito legislativo tem uma razoável justificativa.

Desde a redemocratização, senadores do Nordeste comandaram o Senado em 17 oportunidades – um amplo domínio. Recentemente, Eunício Oliveira (MDB), pelo Ceará, foi presidente do Congresso Nacional entre 2017 e 2019. Outro cearense, Mauro Benevides (MDB), também presidiu o poder entre 1991 e 1993.

Já na Câmara dos Deputados, oito nordestinos foram presidentes desde a segunda metade da década de 1980. O cearense Paes de Andrade (MDB) teve a oportunidade de chefiar o Legislativo Federal entre os anos de 1989 e 1991.

Os números do Senado e da Câmara, juntos, apontam um claro domínio de políticos nordestinos no comando das principais casas legislativas do País. Se não há protagonismo econômico, como reclama o governador mineiro, sobra capacidade de articulação política.

Se agem para o "bem" ou para o "mal" – a depender do ponto de vista –, é uma outra discussão que não cabe aqui. O fato é que os representantes do Sul e do Sudeste precisam aprender um pouco mais a discutir programas e conquistar espaços estritamente no campo da política, sem correr o risco de criar uma agenda "nós contra eles" ou de cuspir preconceito.

"Já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político. Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília", disse o governador do Novo em entrevista ao Estadão.

A repercussão da entrevista não foi nada boa. Houve interpretação, inclusive, de que o gestor teria sido xenofóbico – preconceito quanto à origem geográfica da população – quando tratou do protagonismo político usando parâmetros questionáveis.

"Se não você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Daqui a pouco as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento. É preciso tratar a todos da mesma forma", disse em entrevista ao tentar cobrar igualdade na relação entre os estados.

Há muitas interpretações sobre a fala do governador. Zema, no mínimo, não entende que a união organizada de estados nordestinos é, sobretudo, no sentido de sobreviver diante dos baixos recursos arrecadados e do prejuízo que tiveram ao longo das últimas décadas de Brasil. Foi justamente a parceria de governadores que fizeram avançar muitas políticas públicas importantes para a região.

Houve, claro, reação do Consórcio do Nordeste. O governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), que é presidente da organização, rebateu a fala de Zema. "É importante reafirmar que a união regional dos estados do Nordeste e, também, do Norte não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades e desenvolvimento", disse.

'Não é ser contra ninguém'

Depois da má repercussão da entrevista, Zema publicou uma nota nas redes sociais procurando outro tom sobre o que pensa em relação às regiões do País. 

"A união do Sul e Sudeste jamais será pra diminuir outras regiões. Não é ser contra ninguém, e sim a favor de somar esforços. Diálogo e gestão são fundamentais pro País ter mais oportunidades. A distorção dos fatos provoca divisão, mas a força do Brasil tá no trabalho em união", escreveu.

Abaixo, os nordestinos que ocuparam lugar de destaque na Câmara e Senado.

Nordestinos na presidência do Senado

Humberto Lucena (PB) 1987-1989 / 1993-1995
Nelson Carneiro (BA)* 1989-1991
Mauro Benevides (CE) 1991-1993
José Sarney (MA)** 1995-1997 / 2003-2005 / 2009-2011 / 2011-2013
Antônio Carlos Magalhães (BA) 1997-1999 / 1999-2001
Edison Lobão (MA) 2001-2001
Renan Calheiros (AL) 2005-2007 / 2013-2015 / 2015-2017
Garibaldi Alves (RN) 2007-2009 
Eunício Oliveira (CE) 2017-2019

*Eleito pelo Rio de Janeiro, mas com história política no Nordeste
** Eleito pelo Amapá, mas com história política no Nordeste

Nordestinos na presidência da Câmara

Paes de Andrade (CE) 1989-1991
Inocêncio de Oliveira (PE) 1993-1995
Luís Eduardo (BA) 1995-1997
Efraim Morais (PB) 2002-2003
Severino Cavalcanti (PE) 2005
Henrique Eduardo Alves (RN) 2013-2015
Waldir Maranhão (MA) 2016
Arthur Lira (AL) 2021-2023 / 2023-2025