"O Ceará nem começou". É assim que Carlos Kleber Pinho, jovem empresário cearense de mentalidade disruptiva e entusiasta ferrenho da inovação, define, em entrevista exclusiva a esta Coluna, o cenário da energia solar no Estado, fazendo alusão ao enorme potencial inexplorado. Kleber é fundador e CEO da Sou Energy, fabricante e distribuidora de equipamentos para geração solar.
Hoje, o Ceará possui pouco mais de 30 mil unidades de geração própria de energia solar, o que é considerado ínfimo para o que esse mercado tem a alcançar no futuro.
Com a demanda crescente no setor — impulsionada, entre outros fatores, pelos aumentos exorbitantes na conta de energia e a queda nos preços dos equipamentos solares —, a companhia teve expansão de 500% em 2021 e deve atingir faturamento de R$ 2 bilhões neste ano, consolidando-se como uma das três maiores do Brasil e a principal do Norte/Nordeste.
Investimento de R$ 70 mi em novo complexo
Recentemente, a Sou mudou-se para a nova sede, uma estrutura de 20 mil metros quadrados no Eusébio (Região Metropolitana de Fortaleza), que comporta a fábrica e também o centro de distribuição. A área fabril de 7.500 m² é a segunda maior do Brasil considerando as empresas desse segmento. O projeto ainda está em andamento.
Serão investidos, no total, R$ 70 milhões, dos quais R$ 15 milhões já foram aportados. Há o plano de adicionar ainda uma fábrica de baterias, com investimento de R$ 10 milhões. Kleber afirma que esse será o maior Complexo de Inovação e Sustentabilidade do País.
Uma decisão tomada em 2020 foi crucial para a Sou chegar ao atual patamar, com 14 mil clientes e um market-share nacional de 10% e estadual de 70%. A empresa, conta o CEO, além de atuar como montadora e distribuidora, fazia também a instalação das placas fotovoltaicas. Desde então, passou a dedicar-se apenas à fabricação e distribuição, o que representou, na visão do executivo, um ponto de inflexão.
Renda inicial de R$ 15 mil
O empresário, inclusive, vê no serviço da instalação um oceano de oportunidades que pode gerar mobilidade social para os trabalhadores no Ceará e o Brasil.
"Hoje, o desempregado tem duas opções principais: o Ifood e o Uber. Por que não ser um instalador solar? Nós temos o nosso aplicativo (Sou Para Todos), em que ele escolhe o consumo do cliente e faz o pedido na hora. Ele define a margem que quer ganhar, o valor da venda, se a venda é no cartão, se é no boleto e tudo mais".
Segundo o executivo, a remuneração dessa atividade é vastamente superior em comparação com a de motoristas e entregadores, por exemplo.
"Um instalador consegue sair das classes D e E para a B em três meses. É lindo", diz, explicando que é possível, de início, obter uma renda de R$ 15 mil líquidos ao mês — valor que pode chegar a R$ 60 mil.
Perguntado sobre o que é necessário para se tornar um instalador, o executivo é categórico: "Vontade. Só vontade".
Não é preciso ter um capital inicial e nem expertise, pois a Sou fornece as condições necessárias para as primeiras vendas e também dá suporte na qualificação para empreender no setor.
"Nos últimos dias, eu estava pensando, qual é o meu propósito como empresário? O que essa empresa tem de valor para dar à sociedade? E cheguei à conclusão de que a Sou Energy é uma formadora de empreendedores. Eu me sinto muito feliz em criar essa rede de empreendedores", destaca, referindo-se às empresas e profissionais que se encarregam das instalações dos painéis.
Um desafio é transformar a venda dos kits solares, antes morosa e considerada complexa, em um comércio de "porta a porta" ágil e simples, diz o gerente comercial da empresa, Mário Viana. "Com isso, qualquer pessoa que tenha a atitude para vender o produto vai ter uma incrível oportunidade de trabalho", projeta.
Compra mais acessível
Carlos Kleber celebra o barateamento dos equipamentos, que está democratizando os investimentos na produção de energia a partir do sol. Afirma que o desejo pelos painéis fotovoltaicos tornou-se até uma aspiração familiar.
"O pai dá uma parte, a mãe entra com outra, os filhos ajudam, entram com o dinheiro do FGTS e pronto, a família tem um bem que vai gerar economia a vida toda".
O payback — ou seja, o retorno financeiro do investimento — nunca foi tão baixo, diz ele. Está em torno de três anos e meio a quatro anos.
"Anos atrás, um carro popular custava R$ 30 mil e um kit solar custava R$ 45 mil. Hoje, o carro mais barato não sai por menos de R$ 60 mil e o kit está muito mais barato. O que eu quero dizer é que a instalação dos painéis solares é um negócio muito mais vantajoso, até porque a economia gerada pode ajudar a comprar um carro no futuro".
A Sou não vive só de sol. Com a Sou Tech, um braço tecnológico, é também distribuidora de robôs de atendimento, produto único no Brasil, e desbravará outros setores high tech em breve.
"A gente está num segmento multibilionário de energia solar, porém a Sou Energy é uma empresa de monoproduto. Nossa grande ânsia é não ter só um produto", afirma Kleber.