O mundo virtual é um espaço de liberdade e de dualidades. Ao mesmo tempo que permite que nos comuniquemos com pessoas do mundo inteiro, tem estimulado a introversão, o isolamento e o distanciamento dos mais próximos. Ao mesmo tempo que permite um trânsito anônimo, gera oportunidades de brilhar e de manifestar poder. Muitas vezes, um poder distorcido e doentio, expresso através da perseguição, movida pelo ódio.
Somos amor, mas podemos em algum momento, em determinadas circunstâncias, mostrarmo-nos como capazes de odiar, de ferir alguém de alguma forma. Independente da história de vida e dependendo do contexto que esteja vivendo
Para Orkut Büyükkökten, criador da rede social que levava o seu nome, um dos motivos que explicam esse campo de batalha nas redes sociais é a cultura do narcisismo, pois estamos “cercados de espelhos, que refletem não verdadeiramente como nos sentimos, mas o que queremos que o mundo veja em nós”.
Levando em conta o que ele falou, entra em cena a figura do antagonista narcisista, que se enfurece quando alguém defende uma ideia diferente da sua. Ou conquiste o destaque que ele acredita que deveria ser dele, em qualquer área da vida. O estopim pode ser desde o brilhantismo intelectual até a beleza física, a ideologia política, o carisma ou a respeitabilidade pública.
As causas que despertam a fúria são irracionais, sem uma lógica razoável, porque vem da subjetividade do próprio agressor que se sente desrespeitado e insultado, mesmo que o agredido não tenha feito nenhuma menção a ele e nem o conheça. É o chamado dano narcísico.
O psicólogo Philip Zimbardo, autor do livro Efeito Lúcifer, assevera que “Alguns tipos de transtornos de personalidade ou transtornos parafílicos podem gerar uma espécie de circuito de prazer compulsivo, onde o sujeito utiliza as redes sociais como forma de descarga de energia, ou, ainda, uma forma de realizar fantasias perversas, que não teriam coragem de realizar no mundo real”.
No canal Universa do UOL, a cantora e compositora Ana Vilela compartilha seu sofrimento com a perseguição de “haters” (pessoas que disseminam ódio na internet). Ela assume que está em tratamento para ansiedade e depressão desde que começaram.
Mesmo que esses ataques sejam realizados por indivíduos, eles fazem parte de grupos ou comunidades. Segundo Freud, ao fazer parte de um grupo buscando aceitação, o indivíduo é como hipnotizado, e assim, “esquece” valores e princípios para defender as ideias desse grupo.
Os pesquisadores denominaram esse fenômeno social e comportamental como “echo chamber”, ou Câmara de Eco. Nele, uma rede de pessoas com ideias semelhantes e afins, se unem para compartilhar somente notícias que reforcem as suas ideias, bem como atacar aos que tem outros posicionamentos.
Esse fenômeno tem sido apontado como um dos maiores fomentadores de extremismos nas redes sociais. E consequentemente a intolerância com as diferenças, os ciberataques e as fakes News, por exemplo.
Segundo o site Brasil de Fato, um levantamento feito pela Safernet, ONG que monitora violações de direitos humanos na internet, realizado a pedido do the Intercept Brasil, mostra um crescimento de 5000% de crimes de ódio durante a pandemia.
Mesmo que você se considere uma pessoa “boa”, muito cuidado com as mensagens que encaminha. Avalie a repercussão que pode causar. Vai acrescentar algo para quem está enviando? Ou somente estimular o extremismo, o ódio já existente naquela pessoa? Você será cúmplice desse crime que o outro pode executar.
Ao ser alvo de haters, evite dialogar com eles, mesmo para demovê-lo da perseguição. Como também, não caia na armadilha de reagir com agressões. Não dê poder a eles.
Lembre-se que essa pessoa é alguém com motivações doentias que quer chamar sua atenção de alguma forma. Ignore-o.
Desista de querer agradar todo mundo, buscando ser unanimidade.
Paz e bem!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.