Meu Deus, que sufoco a vitória sobre a Costa Rica. E veio de forma dramática, nos acréscimos. Repetiu-se o que está sendo comum nesta Copa: time de menor expressão engrossa o pescoço. A Costa Rica engrossou. No primeiro tempo causou sustos. Só não precisava bater tanto quanto os costarriquenhos bateram. Gamboa, carrasco de Neymar. Um açoite ante a contemplação pusilânime do árbitro holandês, Kuipers Bjorn. Lembrei de Gentile, volante italiano que massacrou Zico no desastre do Sarriá em 1982 na Copa da Espanha. Ali, pelo menos, Gentile foi punido com cartão amarelo. Ontem, Gamboa foi advertido apenas com doces palavras. O primeiro tempo do Brasil foi ruim porque concentrou as infiltrações só pela esquerda. Willian na direita estava mal. Foi substituído por Douglas Costa no segundo tempo. Douglas mudou a história do jogo. O Brasil cresceu pela direita e pela esquerda. Bombardeou. Mas a explosão só aconteceu aos 51 minutos do segundo tempo com o gol aliviador de Phillippe Coutinho (1 x 0). Na comemoração, o técnico Tite caiu. Queda feia. Ele passou a ser o único técnico que caiu, mas continuou de pé. Pouco antes, fora ousado ao fazer entrar Firmino no lugar de Paulinho. Partiu para cima. Venceu. Mas a cena comovente, acima do gol de Coutinho, acima da queda de Tite, acima da reação de Douglas Costa, ficou com Neymar. Ao término do jogo, de joelhos como quem faz uma oração, chorou. E chorou como quem agradece a Deus por ter tirado das costas um pesado fardo. "O meu jugo é suave e o meu fardo é leve", diz o Mestre (Mateus, 11,30). Neymar vive sob pressão. É cobrado pelo público, marcado pelos adversários, perseguido pelos invejosos. Amado e odiado porque também provocador. Ora vítima, ora autor. Ora herói, ora vilão. O seu gol, no último instante do jogo, foi um bálsamo para ele. Alívio de tensões. Daí ter extravasado da forma como extravasou. A loucura da alegria, da satisfação pessoal, da resposta aos críticos. Aí abriu o maroto sorriso, que esconde enigmas: ora com ar de zombaria, ora com ar de ingenuidade. Assim é o ídolo imprescindível ao modelo montado pelo técnico Tite. Do jogo de ontem tiro a seguinte observação: só agora, no segundo tempo, finalmente o verdadeiro futebol brasileiro estreou na Copa da Rússia. E regado pelas lágrimas de Neymar no gramado do Estádio Krestovsky na bela São Petersburgo.
Ao térmico do jogo, de joelho como quem faz uma oração, ele chorou. E chorou como quem agradece a Deus por ter tirado das costas um pesado fardo.