Tom Barros: Lágrimas de um gênio

No futebol há imagens que traduzem profundo sentimento de tristeza ou de alegria da natureza humana. Fiquei comovido ao ver lágrimas escorrendo pelo rosto de Lionel Messi após a perda da Copa América Centenário. Por incrível que pareça, passei a admirá-lo mais. A aplaudi-lo mais. E, numa reação mais extrema, a amar mais ainda a sua arte, o seu talento. De repente os olhos marejados do jogador o trouxeram para o patamar comum das frustrações. Aí, o até então frio Messi exteriorizou perante as câmeras do mundo a alma de um simples mortal também sujeito aos fracassos e às desditas. Ali, naquele momento, pude ver por trás do enigmático atleta a verdade e a dor de um último sonho desfeito. O ídolo, o herói, também sucumbe e chora. O Messi chorou.

Comparação

Os argentinos querem um Messi Maradona. Grave erro. Gênios diferentes. Trajetórias diferentes, mundos diferentes, reações diferentes. Messi é Messi. Maradona é Maradona. Essa comparação prejudicou Messi, já pela exagerada pressão. Se não fosse isso, creio, Messi teria conquistado também muitos títulos pela Argentina.

Revisão

Messi anunciou sua aposentadoria da seleção argentina. Ele está com 29 anos. Gostaria muito de vê-lo mudar de ideia para tê-lo na Copa da Rússia em 2018. Na minha idade, 69 anos, já não me toca mais essa bobagem de rivalidade mortal com os argentinos. Acho isso frivolidade, coisa inútil. Amo mesmo é o bom futebol. Sou fã do Messi.

Lágrimas do “Rei”

29 de junho de 1958. Dia de São Pedro. Hoje faz exatamente 58 anos que o Brasil sagrou-se campeão do mundo pela primeira vez. Ganhou da Suécia (2 x 5) em Estocolmo. Pelé, então um menino de 17 anos, chorou. Diferente das lágrimas de Messi, que expressaram a dor da derrota, as lágrimas de Pelé traduziram a alegria da espetacular vitória brasileira. Lágrimas de um alvorecer, as de Pelé; lágrimas de um entardecer, as de Messi.

Ingratidão 

O futebol tem sido generoso com o Messi do Barcelona, mas ingrato com o Messi da seleção argentina. Pelo talento extraordinário, Messi há muito já merecia a coroação com um título mundial, vestindo a camisa da seleção de seu país. Mas no futebol lamentavelmente tais fatos acontecem. Assim com Messi, Zico e outros mais. 

Lista

Além de Messi e Zico, que mereciam um título de campeão em Copa do Mundo, acrescento à lista de injustiçados Leônidas da Silva, Zizinho, Puskas (Hungria), Cruijff (Holanda), Stanley Matthews (Inglaterra), Eusébio (Portugal), Kopa (França), Alfredo Di Stéfano (Argentina e Espanha) e Gento (Espanha)...

Retirada

Não creio seja definitiva a posição de Messi, que anunciou sua aposentadoria da seleção argentina. Depois desse anúncio, parece que finalmente os próprios argentinos descobriram que estavam em falta para com o jogador. Este sempre foi questionado, colocado na berlinda. Messi cansou da indiferença e da ingratidão de muitos de seus patrícios. Coisas do futebol. 

Chororô. Chorar em Copa do Mundo é normal. Ora pela conquista, ora pela derrota. A seleção que mais chorou foi a Canarinho de 2014, quando da realização da Copa no Brasil. Entrou para a história o desespero do zagueiro Thiago Silva, que chorou. E também o copioso choro de alguns companheiros seus quando da execução do Hino Nacional Brasileiro. Muitos consideraram aquele choro decorrente de um despreparo psicológico. Pelo sim, pelo não, tudo acabou mesmo em lágrimas.