Tom Barros: Desgastes desnecessários

O mundo do futebol precisa ser mais claro nos momentos de contratação ou renovação de contrato dos chamados ídolos. Sim, sim; não, não. A conversa franca, corajosa, olho no olho, evita o disse não disse que tanto dissabor pode provocar. Nestes meus mais de 50 anos de batente vi muita situação desconfortável que poderia ter sido evitada. Situações não contornadas pelo medo de falar a verdade. Daí mágoas e decepções para todos os lados. Daí ressentimentos interiores produzidos pela falta de transparência. O respeito recíproco exige sinceridade. Se um dos lados é leviano não há como dar sequência ao relacionamento profissional. A verdade pode doer, mas, se usada habilmente, evita desgastes desnecessários.

Ídolo

Em 1972, Gildo, o maior ídolo do Ceará em todos os tempos, foi surpreendido com a não renovação de seu contrato com o Vozão. Gildo, com belas atuações, tinha sido campeão cearense em 1971. Era amado pela torcida. Acreditava que a renovação seria automática. Quando se apresentou, foi informado do desligamento.

Mágoas

Ao deixar o Ceará, Gildo sofreu muito. Foi para o Calouros. No jogo diante do Ceará, ele, com a camisa do Calouros, foi ovacionado pela torcida alvinegra. Gildo passou anos sem ir ao campo do Ceará. Só retomou o contato quando chamado a trabalhar nas bases. Gildo morreu sem dizer quem o tinha atocaiado.

Recordando

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Em 2011 Gildo foi ovacionado pela torcida alvinegra no PV. Seu último momento de glória. Levado na sua cadeira de rodas para dentro do gol, a torcida gritou em coro o seu nome. O ídolo está acima das incompreensões dos dirigentes. Estes passam. O ídolo permanece. Gildo Fernandes de Oliveira morreu em março de 2016.

Preconceito

A idade tem sido motivo de preconceito. Os veteranos sofrem. A hora de parar é muito complicada. Sérgio Alves, outro ídolo alvinegro, sentiu pressão. Recebeu festa de encerramento de carreira, mas acho que ele ainda queria jogar mais um tempo. Após indecisões, aceitou parar de jogar. E foi ser auxiliar técnico no Ceará.

Reconhecimento

Mandar um jogador veterano ir cuidar das bases pode ser reconhecimento dado pelo clube ou forma discreta de aposentá-lo mediante abrigo. Alguns aceitam. Outros entendem como ofensa tal opção. Depende do atleta. Se ele acha que ainda tem condições de jogar, jamais aceitará proposta assim.

Despedida

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Em junho de 2006 Sérgio Alves fez a festa de despedida como jogador de futebol. Pendurou as chuteiras. Na sua camisa, uma mensagem carinhosa que ele mandou à torcida alvinegra. Não sei se apenas impressão minha, mas parecia que Sérgio Alves ainda se achava em condições de seguir.

Recado. Para um bom entendedor, as palavras de Magno Alves no A Grande Jogada, TV Diário, traduziram a insatisfação dele pela falta de um ato incisivo da diretoria do Ceará que deixou em banho-maria a situação do atleta. Como disse no início da coluna, esse desgaste poderia ter sido evitado. Bastaria ter havido postura bem definida pelo alto comando alvinegro: sim, sim, não, não. Deixar o caso no limbo foi equívoco evitável. Fritar bolinhos foi interpretado por Magno como grave desconsideração.