Tom Barros: Certame mais pobre

Pouco tempo falta para a largada do Campeonato Cearense. As festas de Natal e o Ano Novo desviam um pouco as atenções. É natural que isso aconteça. Aliás, serão muitas competições, algumas sendo disputadas de forma paralela. Copa do Brasil, Copa do Nordeste, Liga Nacional. Mas concentro o foco na certame local. Numa avaliação primeira, a Série A cearense perdeu dois clubes de tradição: Guarany de Sobral e Icasa. Esses dois times já foram vice-campeões estaduais e sempre davam equilíbrio às disputas. O certame fica sem dois representantes em dois importantes polos de desenvolvimento do Ceará. Exatamente por isso entendo que o certame estadual corre sério risco, haja vista a concorrência de competições mais organizadas e com maior apelo televisivo.

Regiões

Quando na década de 1960 começou o processo de interiorização do futebol cearense, havia a ideia de que tal procedimento seria uma forma de descobrir talentos. Assim já funcionava o Intermunicipal que revelou muitos valores para os grandes da Capital. Acreditava-se que o interior seria um celeiro permanente. Não foi.

Dificuldades

No lugar de transformar o interior num celeiro de craques, como em determinado tempo foi o Intermunicipal, a interiorização da Série A gerou uma série de contratempos: nem revelou atletas, nem tornou os clubes consistentes. O que se vê é a dificuldade financeira, inviabilizando equipes. E minguando a competição.

Recordando

Década de 1985. Estádio Castelão superlotado. A partir da esquerda: Da Costa e Valdecir, jogadores do Ceará. Pouco tive contado com Valdecir e não sei sobre seu destino após ele ter saído do Ceará. Já sobre João Rodrigues da Costa, não raro tenho notícias dele. Da Costa, um ponta-esquerda muito bom, foi seis vezes campeão cearense. Em 1973 foi campeão paulista pela Portuguesa. (Colaboração de Elcias Ferreira).

jogador

Sustentação

O Estado de São Paulo colhe frutos de uma política de interiorização que deu certo. Aqui não prosperou. Quantos municípios perderam a sustentação na elite? Lembro de Limoeiro do Norte, Uruburetama, Iguatu, Russas, Trairi, Crato, Crateús, Itapajé, Boa Viagem, Maracanaú... Há algo errado no planejamento.

Independência

O objetivo da interiorização do futebol no Estado do Ceará era livrá-lo da dependência das "importações". Mas a resposta foi inversa: hoje os grandes times cearenses estão lotados de gente de fora. As "importações" aumentaram. O que seria um celeiro de atletas tornou-se um celeiro de problemas. Até quando?

Lágrimas

Conheço Luiz Torquato há várias décadas. Duro na queda, firme na defesa do Guarany/S que, sob sua presidência, foi campeão brasileiro da Série D em 2010. Mas, nos últimos anos, Luiz há demonstrado fragilidade emotiva. Com lágrimas nos olhos, afirmou: "Eu me sinto como uma árvore velha, abandonada. Não pedi para sair. Fui posto para fora do Guarany".

Dados & dados. Puxei pela memória, mas não consegui lembrar quando, antes dessa desistência do Alto Santo, houve a última desistência de um time que iria disputar a Série A cearense. Nas Séries B e C, isso virou ato comum. Cuidado para não haver contaminação em sequência. /// Em 2017 a pretensão do Ceará no Campeonato Cearense é logo se garantir. Dos dez clubes disputantes, oito passarão para a fase seguinte. Não creio que o Ceará vá repetir o papelão 2016, quando nem entre os cinco ficou.