Tom Barros: A Copa da Rússia sob os holofotes do mundo

O país dos czares. De Ivan, o Terrível. De Nicolau II, derrubado pela Revolução de 1917. O país comunista de Lenin. A Rússia das lindas canções. Da "Balalaica", da "Katyusha", da "Duas Guitarras", da "Noites de Moscou", da "Olhos Negros". A Rússia dos voos espaciais pioneiros. De Iuri Gagarin na nave Vostok 1. A Rússia da rica literatura. De Tolstói. De Dostoiévski. A Rússia, que foi Cortina de Ferro. A Rússia do futebol. De Lev Yashin. De Valentin Ivanov. Do futebol científico da era soviética que Garrincha desmontou em três minutos nos gélidos gramados de Gotemburgo na Suécia em 1958. A Rússia de hoje, de Vladimir Putin, e suas contradições. Pois este belo e rico país abre as portas para receber o mundo. E também mostrar-se ao mundo. De Moscou a Sochi, de Ecaterimburgo a Volgogrado, de Rostov a São Petersburgo... A bola. Os ídolos. O esporte da multidões. O Brasil que chega, a França que chega, a Alemanha, a Espanha, a Argentina, o Uruguai, a Nigéria, a Islândia... Olhar fixo no pódio antes do duro caminho a seguir. Labirintos que formam segredos só desvendáveis no transcorrer da competição, jogo a jogo, desafio a desafio. Copa do Mundo muitas vezes ingrata com as melhores seleções. Assim com a do Brasil de 1950, a da Hungria de 1954 e a da Holanda de 1974. Todas traídas exatamente na final quando tão perto da glória. Nesta Copa 2018, impossível antecipar quem ocupará o lugar reservado ao melhor dos melhores. Quem estará no alto, mais próximo da coroação no antigo império. Penso no Brasil. E antevejo a repetição do gesto de Hideraldo Bellini ao levantar a Taça Jules Rimet diante do Rei Gustavo numa fria tarde de Estocolmo. Agora será no Estádio Lujniki na fria e deslumbrante Moscou. A Rússia reúne no mesmo cenário Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo, Iniesta, Olivier Giroud, Thomas Müller. As celebridades maiores em meio a outros jogadores de mediana expressão. Mas todos movidos pelo mesmo sonho. Numa avaliação criteriosa, chegamos à conclusão de que a Seleção Brasileira retomou com Tite a respeitabilidade internacional antes perdida. Superou o trauma deixado pelo fracasso dos 7 a 1 para a Alemanha e dos 3 x 0 para a Holanda na Copa passada, bem à nossa vista, dentro da nossa casa. Tamanha humilhação até diminuiu o trauma que ficara do Maracanazo de 1950. Assim, de espírito renovado, arejada pela palavra sacerdotal de Tite, a Canarinho outra vez se vê em condições de ganhar a Copa. Que Moscou fique nas nossas lembranças como ficaram Estocolmo em 1958, Santiago em 1962, México em 1970, Los Angels em 1994 e Tóquio em 2002. A taça nas mãos brasileiras como as de Bellini, as de Mauro, as de Carlos Alberto, as de Dunga, as de Cafu, sob os holofotes do mundo.