Há uma força mística ao badalar no alto da torre de uma igreja. Por quem os sinos dobram? Não sei. Mas sei que, após cem anos, os sinos da Igreja dos Remédios foram retirados da torre. Havia risco de desabamento. Os dois sinos estão no patamar da igreja. Ao vê-los fiquei emocionado. Quando adolescente, coroinha, eu os tocava, chamando os fiéis. Mas que isso tem a ver com o futebol? Lembrança. Ao seu badalar, na década de 1950, não raro acorriam à igreja atletas famosos, crias da Gentilândia: Moésio, Mozart, Célio, Haroldo Castelo Branco, Pedrinho Simões, Fernando Sátiro... Anos depois, Leilá, Iá, Gonzaga, Irajá, Paulo Castelo Branco. Não sei se os sinos voltarão ao alto da torre. Mas, mesmo no silêncio, fizeram-me voltar no tempo. E estou por saber por quem os sinos dobram.
E dobram
Só resta um badalar imaginário que escuto. Uma espécie de homenagem aos atletas que citei. Alguns já morreram. Outros, vivinhos da silva. A todos eles a reverência porque praticaram um futebol de qualidade superior à correria desenfreada de hoje. Será que foi por eles que esses sinos um dia dobraram?
Nem Roma
Domingo passado vi pela TV Milan x Inter no San Siro em Milão. Correria louca. Cavalaria. Ou melhor, corrida de cavalos. Arte? Zero. Mais aposta física que futebol. Mudei de canal. Quem viu o futebol de Mozart não aceita ver bola que nem bala. Por esse horrível futebol só de pegada e velocidade nem os sinos de Roma e do Vaticano dobram.
Artistas
Graças a Deus ainda há Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo e mais uns poucos na preservação da arte pura com a bola nos pés. Se a preparação dos times estiver cada vez mais voltada para a força física e velocidade, não tardará o dia em que o futebol, como conhecemos, será absorvido pelo futebol de choque, o futebol americano. Lamentável.
Origens
Algum dia voltará o futebol-arte ou o modelo de alta performance física se fixou de vez? Acho difícil voltar às origens do futebol cadenciado, inteligente, criativo, genial. Mas aposto no surgimento de gerações que quebrem o duro futebol de agora. Foi retornando às origens que a Espanha de Iniesta e companhia encantou o mundo.
Por cima
Quem fechou o ano com a imagem preservada, embora o Fortaleza não tenha logrado subir para a Série B, foi o volante Pio, dono de um dos mais potentes chutes do futebol brasileiro. Até hoje não entendi a razão por que os técnicos de plantão no Fortaleza só usaram essa arma poderosa quando já estavam em desvantagem no mata-mata. Inexplicáveis coisas de treinador.
Notas & notas. Um novo livro sobre a vida do papa Sílvio Carlos está sendo produzido pelo jornalista Renato Abreu. O lançamento será em janeiro de 2017. Várias empresas locais estão colaborando. O deputado Tin Gomes tem sido o principal incentivador desse trabalho. Cinquenta fotos inéditas ilustrarão a obra. /// Ainda bem ouvi de Márcio Lopes, titular da Secel, detalhes sobre o que falta para a liberação do PV para jogos com portões abertos. Pouca coisa. O PV é o mais simpático estádio da capital.