Os ídolos não são sepultados

Leia a coluna desta terça-feira

Pelé eterno. As atuais e as futuras gerações buscarão sempre as memórias do Rei do Futebol. A cada referência, por mínima que seja, nascerá a curiosidade de saber sobre um senhor chamado Edson Arantes do Nascimento, jogador de futebol, autor das maiores proezas já realizadas pelos gramados do mundo. As gerações contemporâneas de Pelé não precisarão de vídeos, filmes, fotos, livros, revistas ou qualquer outro tipo de anotação, porque guardam na mente e no coração todo o legado que produziu o Atleta do Século.
 

Seria repetitivo citar aqui novamente lances, gols, dribles, títulos, conquistas, episódios fantásticos, enfim, fatos marcantes da trajetória do genial “Gasolina”, seu apelido de infância. A propósito, gostaria de saber que matriz energética impulsionava Pelé. Certamente a energia dos deuses, limpa, especial, pura, diferente da gerada pelos combustíveis fósseis. Uma energia exclusiva e superior que fez um Pelé exclusivo e superior. Como citei na crônica anterior, Pelé era, ao mesmo tempo, visível e invisível, previsível e imprevisível, mortal e imortal. Pelé não é uma lenda: é verdade. Não há como sepultar os ídolos. Hoje será sepultado o corpo do Pelé. O corpo. 

Lugar 

Não sei em que lugar do universo ficam os ídolos. Para eles, creio, deve ter sido reservado um espaço VIP entre as galáxias. Um lugar onde certamente habitam os que fazem história no planeta Terra e depois, com luz própria, perdoados de todos pecados, revelam os segredos de cada DNA. Inteligências prodigiosas que não cabem no lugar comum. 

Compreensão 

Como entender Mané Garrincha, que a todos chamava de João? Os pobres mortais de hoje, levados pela soberba de um futebol de preparo físico e velocidade, acham que Mané Garrincha não faria a mesma coisa que fez nas Copas de 1958 e 1962. Já imaginaram Garrincha com a leveza dos materiais de hoje e o preparo físico de hoje? Ídolo não é sepultado. Aqui estamos, falando de Garrincha. 

Vivo 

Os ídolos se eternizam. Como é possível em 2023, 85 anos depois da primeira Copa do Mundo realizada pela França, vir ao cenário o nome de Leônidas da Silva, o Homem de Borracha, inventor do gol de bicicleta? Esse brasileiro, artilheiro da Copa de 1938, foi genial. Hoje, muitos marcam golaços de bicicleta. Sim, mas, antes de Leônidas, ninguém assinalava gol assim.   

Dimensão 

No âmbito estadual, não raro, a torcida do Ceará faz referência a Gildo. A torcida do Fortaleza faz referência a Moésio Gomes. A torcida do Ferroviário faz referência a Pacoti. Também Mozart é lembrado. Croinha, Mitotônio, Alexandre. Os ídolos são perpetuados. Às vezes, há a impressão de que foram esquecidos. De repente, ao acaso de um lance genial, eles ressurgem vivos.  

Sepultamento 

Hoje não acontecerá o sepultamento de Pelé. Acontecerá o sepultamento do corpo do Pelé. Este, como qualquer mortal, seguiu o natural caminho reservado a todo ser humano: nascimento, vida e morte. Com o ídolo é diferente: nascimento, vida e eternidade. Onde houver um campo de futebol e uma bola, o Rei estará presente como permanente fonte de inspiração.