Matéria-635769

A defesa do tri

É comum a torcida festejar o autor do gol do título como herói do jogo. Mas hoje Marcelo Nicácio, que fez o gol de empate (1 a 1), não ficará nem um pouco magoado se a torcida eleger Douglas como herói do tri. Na bomba de Boiadeiro, instantes finais, Douglas fez defesa fenomenal. Clássico de alto nível. E um empate justo. A rigor, é difícil barrar um time que embala na reta final. O Fortaleza conseguiu a proeza de ajustar suas linhas, após perder o primeiro turno. Ali, no lugar do desânimo, imperou a vontade de fortalecer o grupo. E assim começou a ser traçado o perfil de um tricampeão. Primeiro acerto: a fixação Mirandinha como treinador. Segundo acerto: a contratação de jogadores importantes como Cleisson, Sidney e Luiz Carlos. Dai a convicção de que o tri ainda estava ao seu alcance. Ontem soube conter o ímpeto do Ceará, máxime na fase final. E, com mérito fez, comemorou mais um tri.

Artilheiro

Marcelo Nicácio, por seus gols importantes, transformou-se numa referência desta conquista. Quero acreditar, como já afirmei em outras ocasiões, que foi a contratação de maior impacto para o tricolor pelo que trouxe de retorno dentro de campo. Nicácio, treze gols.

Afirmação

O técnico Mirandinha foi um dos grandes destaques do Fortaleza nesta jornada vitoriosa. Ele superou resistências externas e internas. Estabeleceu-se pelos bons resultados. Ganhou a confiança dos dirigentes. E, como resposta, deu o sonhado tricampeonato aos tricolores.

Personalidade

Em determinado momento, Miranda não silenciou nem quando ouviu da torcida o grito de ´burro´. Logo respondeu que ´burros são eles que não entendem de futebol´. Motivo: naquele exato momento Mirandinha estava ganhando o segundo turno. Depois, já de cabeça fria, ele disse que não mais agiria assim caso houvesse situação semelhante. Um vencedor.

Revelação

Bismarck teve um campeonato digno das grandes revelações. Para se ter uma idéia, o jovem atleta, além de dar seu recado com muita competência na meia-cancha, também atuou na ala quando foi necessário. Não é preciso dizer mais nada.

Visão

No setor diretivo, Lúcio Bonfim, com sua serenidade, teve a percepção correta ao transferir para Renan Vieira a responsabilidade de cuidar do setor de futebol. Homens certos, nos lugares certos. Contou muito. As contratações aconteceram de forma criteriosa e corresponderam. Renan é do ramo.

De todos

A conquista do tri traduz a coesão de um grupo. Douglas ganhou confiança. Sílvio e Edson, que começaram mal, afinaram no momento certo. Coutinho, Álvaro, Cleisson, Guto, Eusébio e Bismarck, com os respectivos substitutos, foram muito bem. Nicácio e Wanderley representavam perigo sempre. Luiz Carlos deu o importante passe do gol da vitória no primeiro jogo.

Brioso

O Ceará jogou muito futebol. Arlindo Maracanã deu um show. Geraldo também mostrou serviço. Boiadeiro, idem. O mesmo se pode dizer que Michel, Chicão, Gaibu e Misael. Fabrício, Erivelton, Vidal. O time lutou tanto e jogou tão bem que a torcida o aplaudiu no final.

Outra defesa

Já que registrei a defesa de Douglas, também registro a defesa monumental de Adilson, semelhante a de Douglas. Ele, que até esteve ameaçado de perder a posição, pegou muito.

Precipitação

O Ceará não perdeu o título ontem senão nos equívocos que cometeu. Um deles: a precipitação na demissão de Zé Teodoro. Partiu no meio um trabalho que o Zé estava realizando. No lugar de corrigir, preferiu trazer Ruy Scapino, que tentou começar outro trabalho. Não deu certo.

Alto preço

Tentando contornar o erro cometido, trouxeram de volta o Zé Teodoro, que buscou retomar o que tinha sido planejado. Mas o tempo perdido teve um preço. Alto preço. Resta ao Ceará esquecer a perda do título e partir agora para o ousado projeto de subir para a Série A, único fato que no final do ano deixará feliz a sua torcida.


"Vencer é o que importa. O resto é a conseqüência".

Ayrton Senna
Saudoso brasileiro, tricampeão mundial de Fórmula-1