Conta-se que quando Elis Regina e Belchior foram apresentados, o cearense passava por muitas dificuldades financeiras e que uma vez convidado pela gaúcha para ir à sua casa, ele sugeriu que fosse na hora do jantar, assim garantiria uma refeição.
Belchior então pegou o violão, gravou todas as suas composições numa fita e levou-as. Chegando na casa de Elis, o jantar já estava servido e, enquanto nosso cearense se alimentava, Elis ouvia atentamente suas canções. Ao final, Elis disse: vou ficar com essas duas.
Assim, em 1976, Elis Regina lançou o álbum Falso Brilhante, onde as duas primeiras faixas traziam as composições de Belchior. "Eram Como nossos pais" e "Velha roupa colorida". A primeira, especialmente, se tornou um enorme sucesso, com uma interpretação avassaladora e marcou para sempre a carreira da Pimentinha.
Belchior logo foi considerado um dos compositores e intérpretes mais aclamados do momento. Tanto, que a própria gravadora de Elis resolveu contratar o cearense e lançar o disco Alucinação - seu mais emblemático e histórico álbum.
"Como nossos pais" ficou tão reconhecida na voz de Elis, que até hoje, algumas pessoas acreditam ser de sua autoria. Muitos intérpretes, inclusive, têm a versão da cantora como referência e partem dela para novas interpretações. Acho até que seria um grande erro se qualquer novo intérprete tivesse a pretensão de superá-la, mas amo ver como essa música segue se renovando em novas vozes, novos tons, novos tempos.
No próximo dia 19 de maio de 2023, sexta-feira, coloco no mundo a minha versão deste hino, como uma homenagem a esses dois grandes artistas que sou fã. Elis, pela sua contribuição à música brasileira na potência com que interpretava suas emoções ao cantar, e Belchior, meu conterrâneo, esse rapaz latino americano que sai do interior em busca de realizar sonhos e de viver de arte, se tornando um dos compositores mais atemporais da MPB.
Com produção musical de Lucas Nunes (Bala Desejo), contei com um time de grandes músicos brasileiros para essa produção: Pretinho da Serrinha, Kainã do Jêje, Bebê Kramer, Thiaguinho da Serrinha, Alberto Continentino, Diogo Gomes, Gilberto Pereira, Marlon Caldeira e Rodrigo Tavares.
Essa versão traz um som inspirado na regionalidade nordestina, na presença da palavra e na força do tambor, da roda, da palma da mão, da gira e da poesia.
Trata-se de uma produção independente e dentro de um projeto pessoal de revisitar canções de Belchior para registrar versões a partir da minha percepção, interpretação e identificação com seus versos.
Sendo assim, Como nossos pais é o primeiro passo de um novo álbum que segue em processo de criação e que em breve trará novas faixas. Decidi estudar a obra de Belchior tendo como ponto de partida a minha própria história e dividir com vocês o que aprendi nos discos e quando canto essa música, me preencho de vida. Para ouvir em primeira mão, basta fazer o pré-save no link.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor