Quanto racismo existe em você?

Nos último dias, o noticiário reúne uma sequência que me embrulharam o estômago, mas todos nós sabemos o que há embaixo dessa ponta de iceberg

Que semana difícil! Os últimos dias foram aterradores e tenho certeza que não fui o único a me sentir baqueado com tantas notícias ruins envolvendo crimes de racismo no Brasil. Por vezes, penso se devo mesmo me pronunciar sobre assuntos tão dolorosos, mas em outros momentos eu também sinto que essas feridas históricas precisam mesmo doer na gente.

Se você der um Google neste exato momento com a palavra “racismo” e colocar na aba de “notícias”, vai entender o que eu estou falando. Uma avalanche de matérias denunciando os mais diversos tipos de violência - as veladas, as normalizadas, as institucionalizadas, as denunciadas, as filmadas e expostas na internet. Todos aparentam ser “casos isolados”, mas a gente sabe bem o que, de fato, é.

Na última sexta-feira (7), o artista Vinicius de Paula, marido da bicampeã olímpica de vôlei Fabiana Claudino, fez uma denúncia por ter sofrido racismo na unidade Carrefour Alphaville, em São Paulo. Vinicius, homem negro, tentou usar um caixa preferencial sem clientes, mas a funcionária se negou a atendê-lo, afirmando que poderia receber uma multa se o fizesse. Ao se dirigir a outro caixa, o artista presenciou a mesma atendente recebendo uma cliente branca.

No mesmo dia, no supermercado Atacadão, em Curitiba, a professora Isabel Oliveira, entrou na loja apenas de calcinha e sutiã para garantir a todos de que ela não estava ali para roubar. Perseguida por seguranças enquanto fazia compras, a mulher negra tentou denunciar o procedimento, mas sem sucesso, retirou sua roupa em protesto. Em seu corpo, ela escreveu “eu sou uma ameaça?”, e assim comprou o leite de sua filha.

No domingo de Páscoa, a nutricionista e ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias se sentiu no direito de cuspir e agredir dois entregadores negros, no Rio de Janeiro. Em um deles, ela chegou a usar a coleira de seu cachorro como um chicote para agredir. O crime aconteceu porque Sandra se incomodou com os trabalhadores descansando em uma calçada perto de onde ela mora. Simples assim.

No Big Brother Brasil também aconteceu. Foi assustador assistir as cenas onde três mulheres brancas gritam e humilham um homem negro, como fazem com Cezar Black, que nem mesmo enxerga o quanto de racismo existe neste ato. Nem mesmo Aline, que completa o grupo de mulheres do quarto Deserto. Aline é a prova de que negritude não tem a ver, necessariamente, com letramento racial, e as percepções da jogadora se equivocam a todo instante.

E ainda que ela faça parte do mesmo grupo das brancas, sabe o que acontece aqui fora? Aline também sofre diversos ataques racistas, bem como todos os participantes negros sofrem diariamente, os desqualificando por conta de suas cores, traços, cabelos ou posicionamentos.

Termos como “escravinha”, “mucaminha” e “chaveirinho de branco” são algumas das ofensas destinadas a ela. Isso acontece, porque o corpo de uma mulher preta sempre será o alvo mais fácil, não importa de que lado ela esteja.

Até mesmo uma das roteiristas do BBB, Nathalia Cruz, vem sofrendo retaliações e ataques racistas na internet por fazer somente o seu trabalho: escrever piadas. Nathalia é redatora do quadro Big Terapia, apresentado por Paulo Vieira. Na última semana, torcidas de participantes do jogo tentaram “cancelar” Nathalia, exigindo que ela seja demitida.

Hoje escrevi somente sobre o que ganhou grande repercussão na internet, as notícias que me embrulharam o estômago nos últimos dias, mas todos nós sabemos o que há embaixo dessa ponta de iceberg.

Há uma estrutura sólida que garante a propagação do racismo todos os dias, que aduba as raízes desse mal, que relativiza as diversas facetas desse crime e que, no final, ainda vitimiza pessoas brancas.

Não dá mais para vermos adultos cometendo crimes e desculpando-se por suas atitudes como “momentos de aprendizagem”. Pessoas brancas devem ter compromisso com o letramento racial, de entender como as relações raciais descrevem e sustentam a nossa sociedade e como o racismo está entranhado em nós, em nossa formação educacional, em nosso vocabulário, em nossa literatura, nossa música, nosso cinema, nossa economia, nossa política, nosso mercado de trabalho, nossas religiões, em todo lugar.

Pergunte-se sempre: Eu fui racista? Estou sendo racista com este pensamento/atitude? Eu falei algo de cunho racista? Eu tratei aquela pessoa diferente por conta de sua cor?

Pergunte-se!

Uma, duas, três, sempre.

Busque o racista que há em você no dia-a-dia para aniquilá-lo.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor