Oi, Paulo!
Sou eu, Silvero. Não sei bem se você sabe quem eu sou, mas espero que leia com carinho. Aqui quem te escreve é um fã. Resolvi te dedicar essa carta-oração na tentativa de te falar tudo o que sempre quis e adiei - ora pela timidez, ora por receio de ser inconveniente.
Te vi pessoalmente apenas duas vezes na minha vida. Na primeira, estávamos na ante-sala do camarim da Lilia Cabral, no Theatro Via Sul, aqui em Fortaleza. Foi depois da apresentação do espetáculo Maria do Caritó, lembra? Estávamos eu e você aguardando o momento de parabenizar Lilia e reverenciá-la. Fiquei muito nervoso quando te vi. Minha vontade era de te abraçar, dizer o quanto você é importante e, claro, registrar aquele momento. Entretanto, não fiz.
Anos depois, cruzei com você no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Eu estava bem atrás de ti na fila do check-in, igualmente nervoso, como da primeira vez. Não pude deixar de notar como você estava impecável, com aquele blazer e chapéu pretos, tão você. Novamente, quis me aproximar, falar algo, mas sabe como é, estávamos prestes a pegar um voo, não me parecia o momento ideal. Lembro que nesse dia fiquei admirado com tamanha educação que você teve com a atendente do aeroporto. Sei que pra você isso não deve ser nada fora do comum, mas sempre fico feliz quando vejo cenas de gentileza se concretizando sob meus olhos. Pensei: Se eu tiver outra chance, falo com ele.
Minutos depois, nos colocaram lado a lado, no sofá do setor de embarque. Entre um café e outro na espera pelo voo, me segurei para não virar pro lado e te tietar loucamente. Te dizer o quanto gosto de você, como artista e como ser humano. Infelizmente, a timidez me travou e eu perdi mais essa oportunidade.
Sabe, Paulo, tenho me sentido triste e frustrado por todas as chances perdidas. Sinto um nó na garganta por não ter te dito tudo o que eu queria, por não ter transparecido o fã que sou, por não ter dito o quanto você é um exemplo de artista que amou e exerceu seu ofício brilhantemente, por não ter te falado sobre como você é uma referência de homem gay, que chegou a lugares profissionais e de respeito nunca antes vistos neste país.
Ah, Paulo, eu queria ter te contado sobre como admiro sua inteligência gigantesca, sobre como você fez milhares de pessoas aprenderem sobre humanidade rindo. Rindo não, gargalhando. Queria ter te falado sobre como você inspira a mim e a tantas outras pessoas como marido apaixonado, pai tão dedicado e filho absolutamente devoto de sua mãe, que conseguiu transformar seu trabalho em uma homenagem imensurável a ela.
Ainda me custa muito acreditar que isso aconteceu, Paulo. Dói como se você fosse um amigo próximo, alguém da minha família. Isso porque você nos fez sentir assim ao abrir as portas da sua vida para que nós conhecêssemos sua mãe, sua irmã, seu marido e seus filhos. Para que nós conhecêssemos sua força, sua alegria, sua energia, sua vitalidade.
Que tristeza, Paulo! Que revoltante é saber que você e tantas outras pessoas poderiam estar aqui, se tivéssemos vacinação em massa, de fato. Você se foi cedo demais. Nós precisávamos muito de você ainda. A gente precisa de motivos para voltar a sorrir e você era um deles. O Brasil precisa de mais “Paulos Gustavos”, entende?
Paulo, resolvi encerrar essa carta escrevendo exatamente o que queria ter te dito em todas as oportunidades perdidas: Sou seu fã e me identifico muito com você. Eu também faço teatro, porque descobri na arte um lugar de amor, de afeto e de salvação.
Eu também sou artista, porque acredito que a arte pode transformar vidas. Eu te assisto sempre, em tudo o que você faz, e também saio por aí reproduzindo suas piadas. Eu sou seu fã, Paulo, e não é só do grande artista que você é; Sou fã da sua felicidade, do seu jeito carinhoso de tratar as pessoas, do sorriso que você estampa no rosto e do amor incondicional que tens por sua mãe.
Obrigado por ser tão essencial num país tão difícil como o nosso! Muito, muito obrigado! Te aplaudo de pé.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.