Na sexta-feira (3), uma tsunami de ansiedade atravessou os vales da Chapada do Araripe. A morte de uma jovem rica, poderosa e bela deixou evidente, principalmente às mulheres, o quão vulneráveis todas estão. Os investigadores apontavam que Yanny Brena, 26, médica, vereadora, presidente de um Poder, teria sido assassinada pelo namorado.
Vi colegas de trabalho aflitas, ansiosas. Amigas de longe perguntavam o que tinha acontecido. Na medida em que a principal linha de investigação era revelada, quem vive no Cariri enfrentava, mais uma vez, o pesadelo que parece sem fim: o feminicídio.
Um amigo que hoje mora fora do Brasil resumiu assim na rede social: "Cariri é um dos melhores lugares no mundo, porém é terra de cabra safado matador de mulher". É triste, mas parece verdade quando se analisam os fatos e a história.
Foi assim durante o chamado Escritório do Crime, há duas décadas, quando mulheres foram assassinadas e tiveram seus corpos mutilidados e desovados na zona rural. Tem sido assim no cotidiano, como esta semana, quando um policial, um homem da lei, bateu na mulher e na filha.
É uma rotina incessante de violência doméstica mesmo com a criação da rede de proteção feminina, com delegacias especializadas, casa-abrigo, centros de referência.
Foi assim historicamente com os feminicídios de Maria de Bil, Francisca do Socorro, Mártir Francisca, Benigna Cardoso da Silva — a primeira beata do Ceará — e outras santas populares. Como analisou a doutora Polianna Barreto, as populações buscaram o sagrado para satisfazer a sede por justiça, por igualdade de gênero, pelo respeito à vida como direito humano básico e imaculável.
Não haveria no País um lugar com tantas mulheres santificadas como o Cariri, e mesmo assim divindade alguma consegue curar essa chaga. Silvanys, Elisabeths, Yannys, os corpos femininos continuam tombando por causa do machismo de cabras safados, que merecem a força da justiça da terra e do céu. Quando vier, já vem tarde.