Conheça a história do garoto do Cariri que anda de bicicleta com cadela de estimação nos braços

Vídeo de José Carlos pedalando pelo Crato com a cadela nos braços viraliza nas redes pela fofura, mas também evidencia problemáticas sociais

O garoto José Carlos Pereira aparece pedalando pela cidade do Crato com a cadela Costelinha nos braços. O vídeo viralizou. "Essa coitada vive atrás de mim. Aí eu carrego para nenhum carro bater nela e ela não se machucar", explica.

A imagem tem milhares de visualizações nas redes sociais. Contêm nela vários significados: o amor incondicional entre humanos e cães, o abraço de quem acolhe, protege, de quem nunca abandona, a sensação de liberdade que é andar de bicicleta.

Mas esse vídeo feito no Cariri, no coração do Nordeste, também revelou outras situações desse nosso país. Situações socioeconômicas que surgem quando se conhece um pouco mais do tutor de Costelinha e dela própria. 

José Carlos é um jovem negro e inteligente que precisou abandonar a escola para poder trabalhar. Aos 16 anos, ele mora com a mãe e ajuda no sustento da casa negociando latas de alumínio aproveitadas na reciclagem. 

O tempo de estudo deixado para trás tem feito falta. José teve que contar com a ajuda de uma amiga para cuidar do Instagram. Por causa do vídeo, ele ganhou muitos seguidores e precisa de auxílio para entender as mensagens. "Ele não sabe ler", diz Amanda Kelly, vizinha de José.

O vídeo que percorre as redes sociais, emocionando a todos, revela a história de um garoto como tantos Brasil afora que costumam passar despercebidos pelo poder público e pelo poder privado. Cidadãos que precisam de oportunidade

Aos 16 anos, José já tem idade de votar e também de ser um jovem aprendiz, para estudar e trabalhar. Mas como fazer isso já que o sustento da família precisa vir em primeiro lugar? Como estudar, se não são dadas as mínimas condições para comer, beber e habitar?

É a falta de oportunidades que muitos chamam de "mimimi" ou dizem que é resolvida apenas pelo esforço próprio e pela meritocracia. Alguém diria por exemplo: a minha vida também era assim e eu venci. Parabéns, você é uma exceção diante de milhares que ficaram pelo caminho.

O vídeo que mostra José é uma nova chance que a vida dá: que pelo menos ele ganhe a oportunidade que todo jovem merece.

O vídeo também denuncia o abandono de animais. Quando foi resgatada por José, a cadela estava cheia de carrapatos e magra. É por isso o nome de Costelinha. Neste país, são abadonados cães de todas as raças. São ainda mais abandonados os sem raça definida. E as vira-latas fêmeas os principais alvos: porque ninguém quer um bicho sem pedigree e que ainda dá cria. 

Mas o José quis. O menino negro e a cadelinha vira-lata se encontraram. Duas vidas que lutam por dignidade e inclusão. Andam abraçados por aí em cima de uma bicicleta, numa imagem que só o amor é capaz de esculpir.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.