A insuficiência cardíaca é uma condição crônica, caracterizada pelo enfraquecimento do coração, que se torna incapaz de bombear a quantidade de sangue adequada para os órgãos do corpo. Uma decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicada neste ano, ampliou a indicação de um dos medicamentos usado no tratamento da doença, conhecido como dapagliflozina.
A condição se apresenta de duas formas, definidas abaixo pelo pesquisador e professor de Cardiologia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Francisco Saraiva, em entrevista à rádio Verdinha 92.5.
- Insuficiência cardíaca de fração de ejeção reduzida (ICFEr) — quando o coração contrai com dificuldade e, com isso, vai perdendo força, como se fosse o motor de um carro que perde a potência;
- Insuficiência cardíaca de fração de ejeção preservada (ICFEP) — limitação caracterizada pelo não relaxamento do músculo, impedindo a entrada de sangue suficiente a ser ejetada para o restante do organismo.
Então, temos uma situação de insuficiência onde o coração contrai mal e uma segunda situação onde o coração relaxa mal, que é insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada."
Segundo o médico, o tratamento da condição é realizado com diversos medicamentos, entre eles a dapagliflozina, que já era usada em casos de ICFEr. Com a aprovação da Anvisa, a indicação da droga foi ampliada e ela passa a ser utilizada também para auxiliar pacientes com ICFEP.
O especialista avalia como positiva a decisão da agência brasileira, pois o remédio demonstrou ser eficaz na redução do número de internações provocadas pela condição.
"Isso foi um grande avanço da melhora da qualidade de vida desses pacientes, pois ninguém quer ficar internado, e muito menos ficar internado de urgência, porque está cansando mesmo para tomar um banho. Então, qual foi o grande avanço? A capacidade de reduzir a chance dessas pessoas serem hospitalizadas."
Uma análise de 2022, publicada no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS), indicou que, entre 2005 e 2015, a doença provocou mais hospitalizações e mortes no Brasil do que alguns tipos de cânceres, como o de estômago, o de próstata e o de mama.
1 milhão de pacientes pode ser beneficiado
Inicialmente, a dapagliflozina foi criada para auxiliar no combate a casos de diabetes tipo 2. No entanto, ao longo dos anos, pesquisadores verificaram a eficácia da droga, que segundo o cardiologista é derivada da casca da macieira, para ICFEr. Agora, o resultado do estudo clínico de fase III DELIVER, realizados pela biofarmacêutica global AstraZeneca, embasou a liberação do medicamento para o tratamento da ICFEP.
"A ampliação da indicação do uso de dapaglifozina traz uma nova perspectiva de tratamento para esses pacientes. Temos a expectativa de que cerca de 1 milhão de pessoas possam se beneficiar dessa nova terapia no Brasil”, afirma a diretora médica da farmacêutica no Brasil, Karina Fontão.
Apesar de compor a lista de medicamento disponibilizados gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), a droga possui restrições para ser distribuída na rede, sendo prescrita somente para tratar diabetes tipo 2 em pacientes com idade acima de 65 anos. No entanto, como detalha Francisco Saraiva, a expectativa dos profissionais da saúde é que os usos dela sejam ampliadas no sistema.
"Temos conversado muito com as autoridades do SUS para ampliar essa indicação, que ela não seja só para diabete, porque esses pacientes que têm insuficiência cardíaca, muitos deles, não são diabéticos. E como o benefício é muito grande, nós estamos lutando para que o SUS encorpore esses outros pacientes."