Acompanhar Wagner Moura em produções de sucesso no Brasil ou fora dele já virou algo costumeiro. Ainda que ele mesmo saiba disso, faz questão de exaltar cada obra da qual faz parte e é assim mesmo, agora, com 'Guerra Civil', longa dirigido por Alex Garland que estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas brasileiros, mas já é sucesso absoluto nos EUA. "Gosto de fazer filmes que tenham algo a dizer, de tramas políticas e, além disso, gosto que os filmes que eu faço sejam vistos pela maior quantidade possível de pessoas", comentou ele empolgado em entrevista ao Diário do Nordeste.
O assunto surgiu justamente ao ser questionado sobre os números impressionantes do longa, que foi a maior bilheteria dos Estados Unidos na última semana. Para Wagner, vários elementos são responsáveis por isso, assim como pela sensação dele de estar incluso em uma obra que o próprio considera como "coerente" e semelhante com o "jeito que ele enxerga" o cinema.
Veja a entrevista completa:
"Estar em um filme desse, que tem o conteúdo super forte, mas, ao mesmo tempo, tem o balanço de ser um bom entretenimento e ser uma das maiores bilheterias dos Estados Unidos atualmente, é maravilhoso, é muito incrível", garantiu.
Na produção, a mais cara já feita pela A24, Wagner é um dos jornalistas em um universo distópico que seguem até a Casa Branca, em Washington D.C, na busca por fazer uma entrevista com um presidente que chegou ao poder fora dos meios democráticos, algo que instalou uma guerra no país e um clima de violência absurda entre cidadãos comuns e insurgentes.
Polarização política
Mesmo com um cenário proposto para ser fictício, o ator também aponta as similaridades com vários conflitos vistos pelo mundo atualmente. Segundo ele, o crescimento vertiginoso da intolerância em meios políticos serve bastante para analisar a obra, criando até mesmo um paralelo com a realidade.
"É um filme que consegue captar muito bem a ansiedade que estamos vivendo. Todo mundo que vive em um ambiente de polarização extrema, aqui no Brasil, nos Estados Unidos ou em boa parte do mundo, acho que sente essa ansiedade grande e o Garland conseguiu captar isso bem. Algo que é muito difícil, muito forte quando acontece em uma obra de arte", opinou.
Wagner aponta que uma polarização política não significa uma guerra como a mostrada no longa, mas acende alguns alertas importantes. "Essa polarização é hoje a maior ameaça à democracia moderna, então isso é o mais assustador do filme. A desumanização do outro, o racismo, a xenofobia, o mundo horroroso nefasto da guerra é uma coisa terrível e eu espero que o filme sirva também como um aviso de que nenhum país está imune a isso", complementou.
O preconceito e a intolerância permeiam o longa, mas Wagner conta que uma das cenas gravadas por ele causou uma reação completamente inesperada. Em outra entrevista, o ator já havia citado um dos diálogos do filme, no qual tem o personagem sofrendo com xenofobia, como um momento doloroso que ficou marcado para ele.
"Fiquei muito mexido porque eu moro nos Estados Unidos, sou ativo lá, e como um imigrante que vive legalmente no país eu sinto que tenho autoridade para agir politicamente e eu nunca tinha sido questionado assim de ouvir "você não é daqui" ou "você não tem direito de falar daqui", e isso aconteceu com o personagem. Aquela cena mexeu comigo. Não esperava que a xenofobia, o racismo daquela cena e o sentimento anti-imigração fosse bater tão forte para mim quando bateu. Então, para mim, foi a cena mais difícil de fazer", adiantou.
Ao longo da conversa, Wagner também falou de outros temas que circundam a história de 'Guerra Civil', como o trabalho jornalístico executado pelos personagens vividos por ele, Kirsten Dunst e Cailee Spaeny, por exemplo. O baiano é formado em jornalismo e ainda revelou parte da preocupação que tem desenvolvido pela profissão, tão importante no cenário político de todo o mundo.
Formado em Salvador, ele explica ainda manter vários amigos jornalistas, com quem mantém conversas sobre o assunto em questão e reforçou: "o trabalho do jornalista sério é fundamental para a democracia, é a busca do fato, da verdade, de ouvir os dois lados, de ser imparcial. Esse é um filme inteiro sob a ótica de jornalistas. Ele não escolhe lados, não tem agenda ideológica, ele mostra o que seria o conflito em uma pós-polarização".
Ainda sobrou espaço na conversa, claro, para lembrar da época em que o ator passou um tempo em Fortaleza, quando viveu Donato no filme 'Praia do Futuro', de Karim Aïnouz. O tema surgiu quando o artista perguntou a mim de onde eu estava falando e o sorriso no rosto não escondeu a nostalgia ao lembrar da Capital. "Fui muito feliz aí, passei um tempão nessa cidade fazendo o filme de Karim. Era tão bom! Ficava ali na Praia de Iracema, era bom demais", finalizou, se despedindo e já deixando a expectativa para a estreia do novo filme.