Rotina não é ofensa

Não sei se já falei  desse assunto aqui. Ultimamente não tenho lembrado muito do que já falei porque a vida anda meio repetida. A conta de luz chega todo mês há anos, condomínio, o banho da cachorra todo sábado, a troca de fraldas praticamente no mesmo horário, muita coisa vai se repetindo. Ao mesmo tempo, tudo, mesmo igual, ocorre de maneira diferente. Quase um tédio. Quase. Precisei ser rápida. Então perdoem se já repeti alguma assunto aqui, trago más notícias: sempre repetirei um ou outro.

É porque as coisas se repetem mas vão soando de maneiras diferentes. A Arya (a cachorra) não tomou o mesmo banho da semana passada. Foi no mesmo dia da semana mas teve que ser em casa, ela teve um probleminha de pele. Meu Deus, que demanda. Um banho demoradíssimo com um shampoo especial, fora secar com o dedo apertando o botão do jato frio do secador. Ela tem muito pelo.

A Arya tomou banho como todo sábado mas agora com a Manuela, com o shampoo especial, na presença dos donos. Todo sábado ela toma banho e as coisas se repetem, dessa vez se repetiu mas de maneira diferente. E assim, uma pessoa que sempre tentou sair da rotina, vai saindo da rotina. Hoje necessária. A conta de luz chegou, assim como o dia do banho, como a 5ª troca de fralda do dia da Nenela.

A vida não é a mesma, nunca. É ali o caminho que escolhemos mas andança é sempre de maneira diferente. Por mais que o geral se repita, há uma mudança das águas do rio. A fralda que era P agora é G, a escovinha que a Manuela segurava enquanto eu trocava a fralda já não satisfaz. O silencio dela de quando ainda não enxergava direito pequenininha virou um barulhinho de besouro ou um choro enjoado porque não quer deitar pra trocar.

É a 5ª troca de fralda do dia, isso acontece há 8 meses. Todo dia é sempre igual mas nunca é. E esse olhar sobre o dia que tem me mantido mais que viva, mas em alerta, presente e que pausa tantas vezes o sentimento de solidão, o marasmo, a repetição. A rotina, dia após dia, que vai construindo a vida: essa, com certeza, dinâmica, rápida, passageira, cúmplice do tempo, sagaz.

É recomendável, talvez até preciso, que a rotina não nos roube. Pra uns ela é boa, pra outros cansativa. Mas pra todos, acredite, se olharmos bem, nunca é exatamente igual.

E o assunto que eu ia conversar, aquele do começo talvez repetido, vou deixar pras próximas. Acabei me alongando nesse tema, porque assim como eu, acredito que a vida de quase todos, em algum momento, de alguma forma, se repita. Espero que, depois desse texto, a repetição não seja mais tão ofensiva como um dia já foi pra mim e sim, trampolim de um olhar mais generoso sobre os dias, meses, anos de nossas vidas, definitivamente, desiguais.

 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora