Para os que saíram de Fortaleza mas ainda guardam a cidade

Hoje é aniversário da minha terrinha. Não foi sempre que abri a boca com orgulho de dizer que sou do Ceará, é verdade. Aquela velha máxima de que a gente só dá valor quando perde. Hoje, me considero quase pernambucana mas é sobre mais do que isso: é que quando a gente sabe que vai embora de vez, começa a perceber as perdas.

Eu já morei do outro lado do mundo e nem senti tanta falta porque eu sabia, no fim das contas, que iria voltar. Quando vim pra cá com o mala e cuia, como diz na minha terra, e coração cheio, sabia que não voltaria mais. Pelo menos não tão cedo, estava vindo pra construir aqui e esvaziar aí: o meu quarto no apartamento da minha mãe e um pouquinho do coração. Porque cada vez que a gente sai do nosso lar, nem que seja pra construir outro, deixa um pedacinho de nós.

E aí reavi: os lugares que fui que estariam diferentes quando eu voltasse nem que fosse a passeio, os que não existem mais, os que estão diferentes, os que estão sendo frequentados por outra galera, outra música, outra vibe, outra proposta. Os que eu não frequentaria mais – tantos que eu deveria ter ido logo, tantos que fui tanto. Quantas histórias eu vivi na minha terrinha. A sensação de despedida, quando vim, me fez lembrar do que eu vivi por aí.

A Beira Mar que ali na esquina tava o Boteco, onde parei tantas vezes depois de correr, o hotel que conseguimos entrada pra ver o trio elétrico do fortal de longe, eu, minha irmã e mãe, o Órbita que eu ia mais cedo pra poder não pagar entrada e ia empolgadíssima cantar a unânime “wonderwall” do Oasis.

Hoje, nenhum desses lugares vibram mais dessa maneira. Não sei se vivi o suficiente tudo isso mas sei que vivi muito. As amizades, uma vida todinha marcada por cada cantinho. Cada um com uma vivência, com uma história, um povo.

E não posso deixara de falar dele, o povo: claro que em cada lugar cada povo tem seu jeitinho, mas o cearense, desse eu posso falar: com seus defeitos e qualidades, um povo acolhedor e que ri. Ri sempre e sempre faz rir.

É legal hoje, nessa construção de amizade que temos – eu e Fortaleza – abrir a boca e dizer: sou cearense. Na grande maioria das vezes, parece que justifica pra muitos tudo que sou e o que me trouxe até aqui. E isso é bom, muito bom.

E a cidade tá aí, parecendo que sempre tá me esperando chegar, agora com aqueles lugares vibrando com outros nomes, outras frequências mas sempre esperando pra novas histórias. Sempre abertos, tão antiga pra quem conhece e tão nova pra quem não.

Temos uma vida juntas, Fortaleza. Tenho estado feliz com nossa amizade, nossas memórias e nossas novas construções a cada vez que a gente se vê.

 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora