Abro espaço para falar de uma modalidade esportiva que não é olímpica, mas que vem se tornando uma verdadeira febre, não só apenas aqui em Fortaleza, mas em diversas outras cidades do País. Não é de hoje que a modalidade é praticada nas areias cearenses. Há mais de dez anos chegou por aqui e a partir de então vem em ascensão.
Além da prática amadora, o Estado é espaço também para atletas que despontam no cenário nacional e internacional. Aos 30 anos, Marília Câmara é a 14ª do ranking nacional e 43ª do internacional. Em entrevista exclusiva à coluna, Marília Câmara contou sobre a relação com a modalidade, a rotina dividida e as expectativas para a temporada.
Marília já é destaque por conta da posição no ranking e o vice-campeonato ao lado de Flávia Muniz, na etapa do Circuito Mundial, em Campina Grande (BT 200), em competição disputada no último final de semana, deve fazer com que suba ainda mais colocações, podendo chegar entre as 10 melhores do Brasil e as 30 do mundo. A cearense iniciou a carreira no esporte no tênis ainda na infância, aos oito anos, mas acabou fazendo a transição da modalidade após uma lesão, aos 19.
Por ser uma modalidade ainda nova, o profissionalismo no beach tennis esbarra em algumas dificuldades. Muitos atletas não conseguem se dedicar integralmente às competições e acabam tendo que dividir a rotina. Marília, por exemplo, caminha cada vez mais pro profissionalismo, mas ainda encara parte da rotina em uma construtora, já que também é formada em engenharia civil.
“Em julho de 2021 eu retornei ao circuito de uma forma mais profissional, comecei a dar aula no início do ano passado, então hoje em dia o beach tennis deixou de ser um hobby, como era lá em 2011 e passou a ser profissão, não só na disputa do Circuito Mundial, mas também através das aulas.”
O profissionalismo dos atletas de beach tennis se torna difícil, muitas vezes, na questão financeira. A necessidade de correr atrás de patrocínio e uma premiação que ainda não se equipara com outras modalidades são os principais entraves. Marília comenta:
“De um tempo pra cá os torneios começaram a valer mais dinheiro, mais pontos. As premiações tão melhores, a procura por aula tá grande, mas não chega ainda ao patamar do tênis. O esporte ainda não dá todo esse retorno.”
Apesar desse cenário, o Conselheiro da Federação Cearense de Tênis e Beach Tennis, Bruce Mállio destaca que a premiação vem melhorando: “Se a gente comparar o que eram as premiações em 2019 pra hoje, um torneio grande pagava 30 mil dólares e hoje chega a pagar 200 mil, então o nível de premiação subiu muito.”
O Ceará é o sexto do Brasil em nível técnico. Só em Fortaleza são cerca de 180 quadras para a prática do esporte que se difundiu também para longe das praias. Não é difícil encontrar pelos bairros, nas academias, espaços que se transformaram em quadras. Para se ter uma ideia do crescimento da modalidade no Estado, o conselheiro da federação comentou que etapa do campeonato estadual realizada neste ano teve 450 pessoas, enquanto em 2016 foram 145.
Esse alta na busca pela modalidade ele acredita que seja por conta da simplicidade do jogo:
“A gente pode atribuir esse crescimento da modalidade, realmente exponencial, principalmente, por conta facilidade de se praticar. Não é uma modalidade que uma pessoa com sobrepeso, idosa ou muito nova tenha dificuldade em jogar. Se a gente entregar quatro raquetes e explicar um pouquinho das regras, em 15, 20 minutos eles tão se divertindo. E isso aí facilita muito essa quantidade de adeptos.”
Marília concorda:
“O boom do beach tennis veio na pandemia [...] é muito legal, joga toda idade, terceira idade, criança... a gente, pela casa dos 30 anos... não tem idade! É fácil de aprender e por ser um esporte democrático, talvez seja tão agregador.”
Apesar dessa crescente popularização, o beach tennis ainda caminha para ser uma modalidade olímpica. Mas Marília acredita que isso possa acontecer logo.
“ A gente já tem comitê internacional de atletas profissionais se adequando para entrar nas Olimpíadas. [...] Existem algumas coisas que a gente ainda tem que adequar, em relação à visibilidade, por exemplo, a cor da rede, da marcação, a bola... Então tem algumas coisas que a gente ainda tá ajustando, mas que tem perspectiva de tornar olímpico, tem sim!”