Retornando para o ano em que o Brasil voltou ao lugar mais alto do pódio em Olimpíadas, 2004 foi uma edição de extremos. Inesquecível, mas por motivos diferentes para homens e mulheres que representaram o País no vôlei.
Após 12 anos do primeiro título olímpico, a seleção masculina conquistou o ouro, que consagrou uma geração multicampeã. Quem não lembra do grupo com Giba, Nalbert, Serginho, Gustavo, Maurício, Dante, Giovane, Ricardinho, Rodrigão, André Nascimento, André Heller e Anderson? O ouro veio com vitória contra a Itália, praticamente uma troca de bastão entre as potências da modalidade.
Já a seleção feminina vinha com um grupo promissor, o retrospecto era positivo, após a geração de bronze. E tudo ia até bem, mas parou no inesquecível 26 de agosto de 2004. Lembro como se fosse hoje, mais uma tarde em meio aos estudos, que fora interrompida para acompanhar a partida que levaria o Brasil à tão sonhada final olímpica.
4º set, após dois vencidos, o match point era do Brasil: 24 x 19 contra a Rússia. O êxito era certo, quem imaginaria uma virada daquelas?
Mas foi o que aconteceu. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis chances de fechar a partida foram perdidas, e o adversário foi quem fechou em 28 x 26, assim como o tie-break, 16x14. Mesmo quase 17 anos depois, é impossível tirar da memória aquele jogo. Na disputa pelo bronze, o abalo era inevitável e visível. A medalha não veio.
Pequim e Londres
Em 2008, na edição de Pequim, a trajetória seria de superação. Um caminho quase irretocável das meninas do vôlei até o tão sonhado e merecido ouro, que veio contra os Estados Unidos.
Em Londres, 2012, manter o lugar mais alto do pódio não seria tarefa fácil, e não foi, desde a quase desclassificação ainda na fase de grupos até o jogo que entrou pra história, nas quartas de final.
Contra a Rússia, novamente, dessa vez o resultado foi positivo. Após salvar seis match points, a vaga na semifinal estava garantida. A seleção passou pelo Japão com 3x0 e mais um susto veio na final. No primeiro set, um verdadeiro passeio dos EUA: 25x11. A virada veio e o bicampeonato olímpico também.
Enquanto no feminino, foram dois ouros; no masculino, duas pratas.
Em 2008, a derrota na final foi para os Estados Unidos. Em 2012, a Rússia, ela mais uma vez, surgiu no caminho brasileiro. O tri parecia a caminho, após a vitória nos dois primeiros sets. A seleção não contava com a entrada de Dmitriy Muserskiy, de 2,18m. O gigante russo dominou e liderou a virada, que deixou o Brasil mais uma vez com a prata.
Brasil e Tóquio
Em casa, na Rio 2016, o ouro veio de onde menos se esperava. A seleção masculina não começou bem a fase de grupos e acumulou duas derrotas para EUA e Itália. Mas na fase final trilhou um caminho de vitórias até derrotar a favorita seleção italiana, por 3x0, na final.
Já a seleção feminina chegou em busca do tricampeonato, com boas condições. A primeira fase foi impecável, só vitórias. Mas a queda veio, e cedo demais, ainda nas quartas de final. Contra a China, a atuação foi irreconhecível. 3x2 e o sonho do terceiro ouro olímpico adiado.
Adiado, quem sabe, para Tóquio, que deve ser a despedida do comandante José Roberto Guimarães. As meninas do Brasil não chegam como favoritas ao ouro, ao pódio, é possível dizer.
Numa transição de gerações, com a experiente Carol Gattaz e a iniciante na seleção adulta, Ana Cristina – ambas estreando em Olimpíadas, o Brasil deve enfrentar uma primeira fase tranquila. Os adversários do grupo A serão: Japão, Sérvia, Coreia do Sul, República Dominicana e Quênia. A pedreira deve vir na fase final, quando começa o cruzamento com times do grupo B: China, EUA, Rússia, Itália, Argentina e Turquia.
Como o retrospecto mostra, a trajetória brasileira nos Jogos é cheia de altos e baixos. Imprevisível. Por agora, apostaria em um pódio. A equipe está equilibrada, com boas peças que podem surpreender.
Já os homens, figuram entre os favoritos. Campeões da Liga das Nações, as chances de medalha são reais. Enfrentar um grupo mais difícil na primeira fase será um bom teste para os jogos eliminatórios. No grupo B os adversários serão: Rússia, França, Argentina, EUA e Tunísia. Na outra chave: Japão, Polônia, Itália, Venezuela, Canadá e Irã.
A seleção masculina tri e a feminina bicampeã olímpicas nunca chegaram ao lugar mais alto do pódio em uma mesma edição. Se isso acontecer em Tóquio, será o ápice para o esporte coletivo mais vitorioso nos Jogos.