Ser mulher, no Brasil, é lutar diariamente por respeito e espaço. No esporte e, especialmente no futebol, essa batalha é ainda mais árdua. É querer o direito de praticar e torcer, e a possibilidade de se sentir representada e identificada com aquilo que se aprecia. Aos poucos (bem poucos), o lugar de todas nós vem sendo conquistado.
Este ano, por exemplo, a Confederação Brasileira de Futebol anunciou a igualdade entre diárias e premiações para os dois gêneros. Além disso, duas mulheres passaram a coordenar a seleção feminina. As conquistas são celebradas, principalmente, se retornarmos a um passado nem tão distante, quando no país do futebol, as mulheres eram excluídas.
Foram quase quatro décadas (1941 a 1979) vigorando um decreto que proibiu a prática por pessoas do sexo feminino. Os anos de proibição refletiram no desenvolvimento da modalidade. Apesar disso, os destaques são natos por aqui. Marta, a maior de todos os tempos, foi eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo - conquista que não a deu respaldo ou patrocínio equivalentes aos principais jogadores da categoria masculina. É tanto que, como forma de protesto, jogou a última edição da Copa do Mundo sem patrocínio nas chuteiras.
O percurso a ser corrido dentro do campo é grande e caminha lento. Enquanto até cogitaram readequar as medidas físicas de linhas e traves, o que se quer é readequação nos direitos, tratamentos e possibilidades. O fato é que, para garantir direitos iguais, não adianta chegarmos apenas a resultados equivalentes, mas superá-los.
Fora do campo, quando se pensava haver trilha equivalente, um baque! Em meio a campanhas de combate à violência contra mulher e lutas constantes por igualdades, uma contratação tem repercutido nos últimos dias. O Santos anunciou o retorno de Robinho, cria da Vila Belmiro, com o status de ídolo. O atleta, no entanto, tem contra ele uma condenação na Itália, a nove anos de prisão por violência sexual, em 2017. Isso parece ter sido ignorado pela diretoria e trouxe à tona, mais uma vez, a mensagem que, no futebol, as mulheres não importam tanto assim. Ver em campo, livre e aclamado, alguém que violentou uma de nós traz o sentimento de não-pertencimento, de desencanto por aquilo que despertaria magia e interesse.
Ser mulher no esporte é aprender que os dribles vão além do gramado e se projetam para a luta constante. Cada conquista mais parece um gol de bicicleta, mas rotineiramente sofre com rompantes como uma bola do adversário na rede aos 47 minutos do 2º tempo.