Parte da crítica musical estipulou um termo que muito discordo: a nova MPB. É verdade que novos ritmos surgiram, outras tendências e sons, ainda assim, a nomenclatura muito me incomoda.
Em primeiro lugar, quando falamos de novidade, a sensação é que existe um passado obsoleto, o que nada define o cancioneiro do nosso país. Outro ponto de discordância é essa dicotomia do atual parecer discordar de suas raízes, um tremendo equívoco, pois o que há de qualidade na música popular brasileira sempre pode notar referências aos eternos ídolos.
Nessa ideia de unificação, é preciso resgatar um novo que, por vezes, ainda vive escondido nas cortinas das noites boêmias. É necessário falar da existência de talentos por trás dos holofotes. O Ceará, é exemplo disso, poderia citar vários nomes da música jovem que merecem maior visibilidade diante a esperança de uma continuidade dentro da nossa música.
Dentre tantos no qual eu poderia fazer menção, preciso falar do encanto de uma cantora de voz leve de timbre delicado. A cearensidade do seu canto é invejável. Discorro sobre Lidia Maria que, sem qualquer dúvida ou medo, pode ser vista como uma das melhores cantoras cearenses de sua geração.
“O novo sempre vem”
Conheci Lidia Maria em um show na inauguração do Centro Cultural Belchior, na Praia de Iracema. Naquele momento, a frase do "rapaz latino americano" se mostrava ainda mais viva ao exclamar que “o novo sempre vem” ! Que identidade daquela moça, suas referências afloravam em um canto emocionado.
Investigando sua carreira, descobri algo fascinante. Apesar de inúmeras possibilidades, como o pop, a artista decidiu ser uma representante da MPB, o que é lindo diante os tempos difíceis na qual vivemos.
Em 2013, lançou o seu primeiro álbum chamado de “Alma Leve”. Trabalho repleto de sensibilidade e poesia. Lidia já mostra a que veio! Nas onze faixas, mescla entre músicas de sua autoria e outras de colegas e ídolos. Confesso que apesar das referências a Fausto Nilo e Moraes Moreira, a minha preferida é a gostosa “Forró Escondido”, feita por por outra talentosa artista nossa, Bárbara Sena.
“Canto o que me emociona. Não cresci ouvindo MPB, mas reproduzo no meu trabalho pois é o que me influencia, me incentiva e faço questão de levar isso para outras gerações”, me cantou a cantora em conversa. Em 2019, a jovem lança seu segundo CD, atraente já pela capa e nome: Viva ! Como sempre, ela arrasa no estilo próprio e voz firme.
Daí em diante foram muitos projetos. O último foi lançado há poucas semanas. É a nova versão do clipe “Me Deixe Ficar Só”, trabalho que reforça seu lado compositora repleta de swing e que recebe a produção de Allan Diniz.
Mesmo mostrando novidades para nosso cenário musical, é impossível ouvi-la sem lembrar dos agudos da Teti, os finais do Fagner e a tonicidade silabada de Ednardo. Lidia é inteligente e sabe escolher suas referências. “Passei muito tempo com um projeto chamado Noite do Pessoal do Ceará, reverenciando esses artistas, inclusive, foi ele que me levou a cantar nos bares, me tirando a timidez”, afirmou a cantora.
Tímida? Pode ser até na vida pessoal, pois sua voz e letras esbanjam confiança conhecendo seu lugar. Ela brilha dentro da jovialidade da artista que nunca para de sonhar e ambiciona projetos novos.
Sempre em movimento
A longa pandemia também segue sendo de muito trabalho. Junto com o brilhante Chambinho do Acordeon, a compositora lançou o single “Vai ter animação”. Depois, com o auxílio da Lei Aldir Blanc por meio da Secultfor, fez uma série de clipes trilhados por suas músicas. E as metas não param...
A cearense tem duas composições inéditas, uma já possui título, “Arma de Mentira” resgatando em protesto a situação do Brasil diante a gravidade da Covid-19. A outra é uma homenagem aos que já partiram, em especial uma amiga no qual se despediu recentemente.
Lidia Maria mostra o vigor da juventude consciente, aquela que sabe a atemporalidade do passado. Ainda que lastime o Estado não possuir movimentos artísticos hoje como o “Pessoal do Ceará” e o “Massafeira Livre”, reconheço que existem grandes reprodutores da nossa música popular, dignos de todos os generosos olhares e palmas.