Premiado drama cearense “Estranho Caminho” aborda relações familiares no contexto da pandemia

Longa que venceu todos os prêmios do Festival de Tribeca, em Nova Iorque, chega aos cinemas nesta quinta-feira, 1º

“Que estranho caminho eu tive que percorrer pra chegar até ti”. A fala proferida por David (Lucas Limeira), protagonista do filme cearense “Estranho Caminho” a dada altura da obra, dá conta não somente da trama do longa cearense escrito e dirigido por Guto Parente como da forma dele em si. Vencedor de quatro prêmios em Nova Iorque, no Festival de Tribeca, o longa estreia nos cinemas nesta quinta-feira (1º).

A partir de um viés de fantasia e suspense, a produção acompanha um jovem cineasta fortalezense que visita à cidade natal e precisa se reaproximar do distante pai, Geraldo (Carlos Francisco, vencedor de Melhor Performance em Tribeca), ao ser surpreendido com o avanço da pandemia de Covid-19.

Com o contexto da crise sanitária como relevante pano de fundo, a obra tem a relação entre pai e filho como principal fio narrativo. Antes mesmo de ser impactado pela chegada da covid-19, por exemplo, David é tomado de partida por sonhos e espécies de visões com Geraldo ao chegar a Fortaleza.

Vindo de Lisboa, o cineasta volta à cidade natal como convidado de um festival de cinema no qual estreará um longa experimental de terror. As experiências de ter pesadelos ou achar que viu o pai na rua acompanham os primeiros dias dele no retorno, reforçando a presente ausência do genitor e representando os mal resolvidos e não ditos entre os dois. 

A narrativa se desenvolve justamente quando, após o lockdown ser decretado e diferentes espaços — incluindo cinemas — serem fechados, David se vê tanto impossibilitado de voltar a Portugal quanto de seguir na pousada paga pelo festival. 

É aí que o jovem precisa recorrer a Geraldo, homem de modos e manias peculiares. Quando o reencontro se efetiva, as estranhezas que já ocorriam pontualmente são enfatizadas e desafiam a reaproximação entre pai e filho.

As rusgas e indefinições da situação entre os dois são refletidas nas próprias imagens, que por vezes assumem texturas da confusão pessoal e íntima de David. A fotografia do longa, assinada por Linga Acácio, também saiu premiada no evento em Nova Iorque.

Ainda que se passe em meio à pandemia, período no qual isolamentos e enclausuramentos foram a regra, “Estranho Caminho” é também um filme de fortes imagens externas — seja na praia, quando David e amigos ainda conseguem se encontrar com distanciamento, seja nas ruas esvaziadas, filmadas de modo que enfatiza um tom apocalíptico.

Enquanto drama familiar e espécie de ficção científica psicológica, “Estranho Caminho” traça um percurso cujos elementos agregam a uma bem-sucedida criação de atmosfera do longa. Tal construção, porém, esbarra em apostas que ele faz em outras misturas entre gêneros. 

Apesar deste ser o terceiro longa com roteiro e direção assinados somente por Guto Parente, ele é o 10º da trajetória do cineasta, cuja carreira é marcada por produções coletivas.

O diretor e roteirista busca estabelecer, no cinema que produz, imbricações diretas entre o narrativo e o experimental. É ao abraçar e mergulhar na abordagem mais próxima do experimento que "Estranho Caminho" efetiva a força que tem. Neste trabalho de ligação, aposta também em mesclar gêneros e abordagens distintas. 

Se, em longas anteriores, as escolhas de agregar humor a tramas norteadas pelo horror — no satírico “O Clube dos Canibais” (2015) — ou pelo drama — caso de “Inferninho” (2018), dirigido com Pedro Diógenes — se davam de forma mais frontal e natural, em “Estranho Caminho” a adição da comédia vem como elemento não de soma, mas de ruptura.

Sequências cômicas envolvendo personagens secundárias, por exemplo, surgem no percurso narrativo com aparente de intenção de contribuir para as "rasuras" da trama, mas acabam se chocando com o tom dos contextos estabelecidos até então.

A despeito dos desvios no caminho, o longa se impõe pela forma como presentifica e concretiza os mal-estares íntimos e coletivos — da relação mal resolvida com o pai à existência em desterro de viver uma pandemia —  em imagem e som.

Estranho Caminho

  • Quando: sessões no Cinema do Dragão na quinta, 1º, às 19 horas e 19h20; sexta, 2, e sábado, 3, às 19h50; domingo, 4, às 13h40 e 18 horas; terça, 6, às 19h40; e quarta, 7, às 17h50; horários do RioMar e Cineteatro São Luiz a serem divulgados
  • Onde: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema) e Cinépolis Rio Mar (rua Des. Lauro Nogueira, 1355 - Papicu); em cartaz no Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro) a partir de 28 de agosto
  • Quanto: Cinema do Dragão — R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia), à venda na bilheteria ou no Ingresso.com, com valor promocional de R$ 10/R$ 5 às terças; detalhes do RioMar e Cineteatro São Luiz a serem divulgados
  • Mais informações: @embaubafilmes