A Latam Airlines deverá basear o Airbus A321XLR (Extra Long Range) nos aeroportos de Fortaleza e de Lima (Peru). Isso significa que a aeronave de corredor único deve ficar baseada nas duas cidades, concentrando, principalmente, voos internacionais, e servindo como centro de conexões.
As informações foram repassadas à coluna por fontes do setor aéreo. A Latam deverá receber os primeiros aviões no fim de 2025.
O Aeroporto de Lima já tem vários destinos internacionais da Latam para países como Estados Unidos, México, Colômbia, Chile, Argentina e Paraguai.
Com o A321XLR, a empresa pode implementar mais destinos, como na Costa Oeste dos EUA, a exemplos de Los Angeles.
Em Fortaleza, o movimento da Latam é encarado como um novo tempo da companhia na cidade, a partir do que podemos chamar de mini-hub internacional, uma vez que o A321XLR poderá alcançar mais cidades nos Estados Unidos e na Europa.
A ideia de hub internacional da Latam na capital cearense já foi ventilada em 2015, quando o plano original da antiga TAM era implementar um centro de conexões com voos internacionais no Nordeste do Brasil, sendo Fortaleza uma das candidatas.
Ademais, relatos de fontes do setor corroboram o entendimento:
“O entendimento é que o XLR vem para fortalecer os hubs Fortaleza e Lima. O avião vem para as duas bases. A máquina (A321XLR) não tem sentido se não for para cumprir longos destinos. O A321 Neo (aeronave já operada pela Latam) já tem alcance para fazer destinos médios”, disse à coluna uma das fontes.
Em 2022, a Latam dizia: “O A321XLR abrirá novas possibilidades de rotas para a Latam, permitindo que a companhia chegue a destinos mais distantes e que não possuem demanda para serem atendidos por aeronaves widebody”. Neste caso, o A321XLR permitiria que fossem abertos destinos em cidades de menor demanda que os grandes hubs São Paulo e Brasília.
Novo hub no Nordeste
A Latam encomendou 10 A321XLR no início de 2023 e não seria a primeira vez que a companhia pensaria em implementar um centro de conexões aéreas em Fortaleza.
Na ocasião, em 2015, a companhia mencionava que os voos internacionais seriam também para grandes centros europeus e as operações realizadas com os Boeing 767-300 que tinham capacidade para até 224 passageiros, apenas 10% maior que a esperada capacidade dos Airbus A321 XLR.
O B767-300, sendo de corredor duplo, tem peso muito maior que o futuro A321XLR, logo, maior custo de operação. Projeto que não vingou.
Ano passado, porém, quando perguntamos se o XLR tiraria do papel o hub do Nordeste de 2015, a resposta da companhia foi de que não era essa a pretensão.
Se em 2016, 2017, a então TAM afirmou que a crise pelo qual passou o país colocava o hub Nordeste “na geladeira”, o Grupo Latam Airlines (ano passado) teve o “maior resultado alcançado pelo grupo em 2023”, com lucro de US$ 582 milhões, ou aproximados R$ 2,9 bilhões.
Sobre a tese de mini-hub internacional em Fortaleza, a Latam respondeu à coluna que: “O grupo Latam investe na renovação de sua frota com pedidos para mais de 100 aeronaves mais eficientes e sustentáveis dos modelos Airbus A320neo, A321neo e A321 XLR até o final desta década. Qualquer informação adicional sobre a operação destas aeronaves e sobre novos voos será fornecida oportunamente pela companhia”.
Encaixe com Fortaleza
Fortaleza é a cidade mais adequada para recepcionar os XLR dada a presença da Latam na cidade, sendo a capital cearense um centro de conexões doméstico para o Norte-Nordeste.
O Aeroporto de Fortaleza, inclusive, possui voos internacionais da Latam com destino à Miami. Com a nova aeronave, Fortaleza alcançaria pelo menos quatro partes importantes do mundo, como América do Norte, América do Sul, Europa e África.
Confira as figuras abaixo:
Destinos que atualmente são atendidos a partir de São Paulo, como Nova York, Cidade do México, Frankfurt e Joanesburgo, poderiam ser operados a partir de Fortaleza com o A321XLR.
Em junho de 2023, a Latam afirmou que a aeronave era uma maneira de tornar possível voar entre Fortaleza e Europa, por ser um equipamento com menores custos envolvidos:
“Hoje, fazer Nordeste-Europa é um desafio para nós, porque nenhum dos dois lados é um grande hub Latam. Então a relação custo/faturamento é um desafio, e o widebody (avião de fuselagem larga), que é o que nós temos hoje possui operação cara. Assim, precisaríamos de uma narrowbody muito eficiente, como o A321 XLR que receberemos em alguns anos”, disse Aline Mafra, diretora de Vendas e Marketing da Latam.
Alternativamente, de Guarulhos, por exemplo, só se voa para Lisboa, Madrid e Barcelona, destinos já atendidos com os widebodies, como Boeing 787-900 e 777-300.
Assim, Fortaleza teria ainda mais dimensão em rotas internacionais do que a conferida pela Gol, que chegou a voar 28 vezes por semana entre Fortaleza, Orlando e Miami entre 2018 e 2019.
Na ausência da Gol, a Latam teria caminho livre para, enfim, investir pesado em Fortaleza. Ademais, pensamos que a malha internacional está bem aquém daquela pré-pandemia, ou seja, não voltaram KLM, Air Europa, Condor, Cabo Verde.
A Latam já sabe que Fortaleza fora experimentada por muitas aéreas europeias nos últimos cinco anos. Já sabe, portanto, do potencial do Nordeste. Se aumentasse a alimentação doméstica em Fortaleza, emulando um hub mais robusto, teria, sem sombra de dúvidas, muito sucesso nessa empreitada internacional. A fonte consultada ratifica esse pensamento:
“Quando o XLR chegar, penso que Fortaleza será muito beneficiada. A companhia terá que fortalecer tudo, doméstico e internacional. Esse avião vai revolucionar. Eles devem desenvolver o hub Fortaleza, para vender o internacional”.
Essa foi a estratégia criada pela Gol em 2018: para receber os voos para os EUA, criou pela primeira vez em Fortaleza, bancos de conexão do Norte e Nordeste para alimentar os voos. Entre junho de 2018 a junho de 2019, passaram pelo aeroporto 1 milhão a mais de passageiros. Fortaleza bateu recordes de movimentação, quando passou a seguir uma grande vocação local, voos internacionais para Europa e EUA.
Fortaleza teria sem dúvidas, ainda que com uma aeronave de um corredor, que pode chegar a ser igual ou melhor que uma classe econômica de uma aeronave widebody, o melhor produto do Brasil para a Europa e para os EUA com a Latam. Isso porque as viagens seriam de 1h e 30 minutos a 3 horas mais curtas do que as saindo de Guarulhos, por exemplo, tornando jornadas muito menos desconfortáveis.
Base de tripulantes
Recebemos informações adicionais que no interior da empresa já se fala na criação de uma base de tripulantes da companhia aérea em Fortaleza o que coaduna com a tese de reforço do hub Fortaleza.
Uma base de tripulantes significa ter tripulantes que moram em Fortaleza, servindo melhor à malha da companhia aérea, dando mais disponibilidade aos voos em eventualidades como manutenção não programada de aeronaves.
A Gol criou a sua base de tripulantes em Fortaleza no início do extinto hub em 2018. A Latam é a única companhia aérea que não tem uma base na região Nordeste.
Mais do A321 XLR
De acordo com a Airbus, o modelo A321-XLR tem alcance de 8.700km, aproximadamente 11 horas de voo, com capacidade para até 200 passageiros, e um consumo de combustível até 30% inferior ao modelo anterior. Já os custos de operação chegam a ser até 45% menores que se comparado as aeronaves de duplo corredor, ou widebodies, com semelhante autonomia.
Dada essa redução de custos, o A321XLR permite que as companhias aéreas iniciem rotas diretas ligando grandes cidades a destinos secundários ou, até mesmo, cidades secundárias sem a necessidade de uma conexão intermediária. Segunda a Airbus, trata-se de uma aeronave com o menor risco financeiro para iniciar uma nova rota até então não explorada.
No caso da operação da Latam no Brasil, a introdução desse modelo de aeronave na frota possibilitará com que a empresa inicie outras rotas internacionais fora do tradicional eixo Rio – São Paulo, ligando demais capitais do país a destinos na Europa e América do Norte.
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.