Discurso de Tiago Nunes mais preocupa que comove; Momento do Ceará exige mais

Alvinegro passou (e muito) daquele estágio da história que precisava equilibrar deficiências só com coração

Ouvi atentamente a coletiva pós-Clássico-Rei do técnico Tiago Nunes, disponibilizada pela assessoria de comunicação do Ceará

Logo que o vídeo inicia, o treinador alvinegro fala pela primeira vez um discurso que voltaria a repetir no final.

"A gente luta conta tudo e contra todos. Não somos o time da moda. O time da moda é de outro bairro. Então a gente tem que estar juntos e abraçados, porque o ano é longo", disse nos primeiros minutos.

Depois, ao fim, ele volta a repetir as mesmas frases:

"Nós somos o time do canal. Muitas vezes não somos o time mais bonito, não somos o time mais elegante. Não somos o time da moda. Até porque o time da moda é de outro bairro. Somos o time que luta, que respeita, que trabalha, que se dedica. Se o nosso torcedor acreditar em nós a gente vai junto. Acredite. Talvez a gente não seja o time mais bonito do ano, talvez não seja o time mais bonito da história do Ceará. Talvez eu não seja o melhor treinador que passou por aqui. Mas a gente tem muito coração, muita força de vontade e vamos superar muitos desafios e muitos chamados gigantes com o nosso coração".

Fora de moda

 

Se o futebol praticado pelo Ceará está na moda ou não, ainda considero cedo para afirmar. Estamos apenas no segundo jogo e o próprio treinador já rotula uma equipe que, ao meu ver, tem muito para entregar (não só no 'coração', mas na bola mesmo).

Fora de moda mesmo é essa coisa do 'contra tudo e contra todos'. Um lance meio início dos anos 2000, que me lembra as primeiras comunidades do velho Orkut.

Nem o torcedor mais fanático cai mais nesse tipo de conversa. O Ceará está no 5º ano consecutivo de Série A e todos sabemos que não é só a 'entrega', jogo disputado, ríspido, que vai garantir o que o Vovô precisa.

O Alvinegro precisa de bola. De futebol bem jogado, de boa troca de passes, de imposição e boa conclusão ao gol.

Já começar o ano com essa conversa de que não vai ser o 'time mais bonito' e, caso exista um jogo bonito que seja associado a 'ser da moda', me parece muito aquém do que o próprio Ceará visualiza como expansão do clube no cenário nacional.

O time de Guto Ferreira era exatamente isso que Tiago Nunes prega. Tanto a diretoria, como torcedores, como a imprensa entenderam que o momento histórico do Ceará precisava de mais. E só quem acompanha o Alvinegro aqui no Estado entendeu isso, em contrapartida às críticas vorazes da imprensa sudestina.

É que o Vovô, caro Tiago, por muitos anos, quando não tinha organização, nem condições financeiras, era mesmo um patinho feio no cenário nacional. Hoje, longe disso. Ninguém se acostuma com essa ideia. Jogar de forma dedicada, com raça, não anula um futebol mais vistoso e mais ofensivo que este elenco é capaz. 

PS: achei que o Ceará fez um bom jogo contra o Fortaleza, na medida das possibilidades. Mas essa não é a realidade para a temporada inteira. O elenco do Vovô tem muito potencial. E no futebol bem jogado, diga-se de passagem.