Covid-19 e política dão o tom da volta do futebol brasileiro

Interesse de alguns times se une às estratégias do Planalto

Em meio ao cenário complexo das negociações da volta do futebol na pandemia do coronavírus, com todos os seus protocolos, curvas, testes e permissões para que seja possível a realização de partidas, outro contexto se instalou no universo do futebol brasileiro nas últimas semanas. O viés político também tem dado o tom das decisões e posturas dos clubes e também do poder público.

Se de um lado existem negociações de times e federações para o retorno de futebol junto a governos estaduais e prefeituras, também há movimentações em Brasília para alinhamento de interesses das equipes com o presidente da República, Jair Bolsonaro. Tudo isso em momento político de embate da União com outros entes do poder executivo, que têm posicionamentos distintos com relação à condução do combate ao vírus.

Situação iniciada a partir da visita do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, e do Vasco, Alexandre Campello, ao presidente Bolsonaro em junho. Alguns dias depois, a MP 984, que muda as regras da Lei Pelé com relação a transmissões de jogos de futebol, foi editada pelo Planalto, causando turbulência na estrutura do esporte nacional e sendo apoiada por parte das agremiações. Como resultado, o Flamengo conseguiu transmitir partida em canal próprio, provocando a rescisão do contrato de transmissão do Campeonato Carioca pela Globo.

Em outro momento, também com relação à MP 984, mais oito clubes da Série A se reuniram com Bolsonaro, entre eles Ceará e Fortaleza. Da mesma forma que Flamengo e Vasco, as equipes procuraram apoio para o PL 3.832, que transforma em lei parte das mudanças previstas na MP editada pelo planalto, e também para resolver a querela com a empresa Turner, que pretende rescindir sem multa contrato com as equipes.

O interesse dos times se une às pretensões estratégicas do Planalto. Em ano de eleição municipal, em que as disputas entre lideranças locais e o presidente (e o que ele representa) podem se acentuar regionalmente, as movimentações políticas do futebol se unem ao processo político.

A volta do futebol está agora inserida nesse contexto, adicionando ainda mais imprevisibilidade às decisões.