Meu nome é Elda Pinto Veras da Silva, mas assino Elda Veras. Nasci em Fortaleza, com raízes nas cidades de Barroquinha e Camocim, no litoral oeste cearense. Sou jornalista, editora do núcleo de reportagem e produção do Sistema Verdes Mares e, agora, colunista no Diário do Nordeste.
Estou numa caminhada constante pela estrada do autoconhecimento, que me auxilia também a entender o outro. Desde criança gosto de escrever sobre a minha rotina e, principalmente, sobre os meus sentimentos. Adulta, a escrita me ajuda na descoberta do meu eu e da minha história.Dentro dela, tenho um amor especial: a infância.
E é por isso que estou aqui. Nesse espaço, divido com vocês aprendizagens e descobertas, resultantes de leituras e estudos ou vivências à flor da pele.
Para começar, vou falar de amor.
Há quase dois anos tivemos a vida transformada por uma pandemia, que nos trouxe o medo e a incerteza. Tememos a dor e a solidão que a doença do momento ainda provoca. A pobreza, a fome, o desemprego. Por tudo isso, nós temos que falar mais sobre esse sentimento deixando de lado as palavras difíceis.
Em 2020, acompanhando meu filho na terapia, a psicologia infantil me revelou um pouco mais sobre o amor. Compreendi, com a cabeça de adulta, o que esse sentimento significa para as crianças. O amor para elas é concreto.
Na infância, ainda não conseguimos internalizar conceitos abstratos de sentimentos. Então, o amor é entendido com a presença, o carinho, a conversa, o abraço, o brincar, o alimentar. Precisa ser visível e palpável.
O entendimento infantil nos ajuda a olhar o presente. Além da crise de saúde pública, também vivemos num universo de menos contato social e, consequentemente, de menos trocas, abraços, conversas olho no olho, toques e todos os outros bons sentimentos que podem ser transmitidos com o uso dos nossos sentidos. O que nos falta hoje é amor. E não podemos permitir essa desconstrução.
O amor deve ser a base do desenvolvimento humano. Ainda no ventre materno, pode ser partilhado com conversas, contação de histórias, músicas. Depois do nascimento, o contato pele com pele, os olhares, cheiros, abraços, o alimento que vem da mãe e o acalento do colo criam vínculos ainda mais poderosos entre pais e filhos, e isso faz parte do processo de construção do amor entre eles. E a infância, fase inicial da vida, é capaz de nos ensinar sobre esse sentimento tão sublime que nos acompanha até o fim.
Para nós, adultos, os sentimentos podem ser concretos, mas também abstratos. Quando fiquei frente à frente com diferentes maneiras de vivenciar o amor, senti saudade de ser criança e, ao mesmo tempo, me coloquei no lugar de adulta e mãe para saber o quanto eu consigo ensinar sobre ele.
Até agora, posso dizer que sou feliz nessa descoberta. Ela representa a minha participação na formação da pessoa que mais amo, meu filho Saul. Ensinamos e aprendemos juntos em fases diferentes da vida, numa ligação que torna mágica, especial e importante estabelecer essa relação desde sempre.
A vida adulta muitas vezes nos distancia desse amor concreto quando os conceitos abstratos que dominamos não se materializam. É quando se torna evidente o quanto as crianças podem nos ensinar. As lições são dadas pela inocência e sinceridade.
O amor com demonstrações de afeto estimula conquistas como independência e clareza dos sentimentos, comunicação simples, felicidade, segurança e um nível de emoção que contagia todos ao redor. Como recompensa: satisfação.
Por isso, façamos o exercício de olhar mais para as nossas crianças, sejam elas geradas no ventre ou no coração, ou do nosso interior. Elas são pequenas, mas possuem uma bagagem linda e rica. Tornemos mais simples a compreensão do amor. O amor é digno e livre. Falemos dele com coragem e sem buscar sentido, ele é para ser sentido. O amor nos torna pessoas melhores. Como temos que ser.