It Girls: o retorno

Pouco menos de 10 anos atrás esse era o termo que a gente usava para as meninas/mulheres que criavam tendências mundiais. O termo voltou, pessoas se auto proclamam uma it girl e eu me questiono: uma mulher gorda pode ser uma delas?

It Girl era (e é) um termo usado para falar das mulheres que, sem querer, criavam tendências e interesse ao seu jeito de se vestir, pensar e de se comportar. Com quem elas andam e os lugares que frequentam também adicionam a esse carisma e irreverência naturais.

Elas existem para despertar a curiosidade das pessoas, têm um mistério ao redor delas: elas estão em "todos os lugares", mas pouco se sabe sobre elas. Ainda assim, é uma it girl que gostaríamos de ser.

A primeira delas se chamava Clara Bow, uma atriz norte americana que fez muito sucesso na era do cinema mudo. Ela foi a personificação dos Roaring Twenties — termo usado para se referir aos anos 1920, de grande efervescência cultural em grandes capitais mundiais do Ocidente, como Nova Iorque, Paris e Londres. Foi um período de prosperidade econômica, grandes avanços tecnológicos e dinamismo artístico, que findou com a Grande Depressão de 1929.

E a partir dela, cada década teve sua it girl de respeito, que simbolizava perfeitamente como se deveria viver o ano, as novidades da época, como alguém deveria se vestir, com quem andar e aonde ir. Elas eram famosas, os principais rostos do rádio, da TV, da música, do cinema e da moda: Marylin Monroe, Twiggy, Jane Birkin, Grace Jones, Kate Moss, Paris Hilton, as irmãs Jenner e Kardashian, e, atualmente, a atriz Zendaya.

Cada tribo também tinha a sua it girl, como foi o caso do rock indie e movimentos de música alternativa que eram personificados por nomes como Chlöe Sevigny e Alexa Chung. Nesse mesmo período, o Brasil com a força que começou a ganhar na internet nos anos 2010, tinha nomes como Camila Coelho, Camila Coutinho e Júlia Petit.

Com uma influência tão forte das redes sociais, esse termo se pulverizou. Influencers, perfis virais do Instagram e TikTok, pessoas que são simplesmente "bonitas" podem ser consideradas it girls, especialmente se elas assinalam todos itens que precisam para serem vistas assim: um estilo de vida divertido, looks garimpados em brechó (mas todos com uma grife muito bem visível) e um copo de matcha na mão.

Aí me vem a pergunta de 1 milhão de dólares: qual a it girl gorda que você conhece? Eu, uma mulher gorda e profissional da moda, não consigo lembrar de muitos nomes, para ser bem honesta.

Esse corpo nunca foi colocado como um que poderia ditar tendências ou ser uma boa influência para outras mulheres — ainda que quaisquer uma das outras que citei aqui tenham sido exemplo forte de hábitos não tão saudáveis.

Georgina, uma britânica que escrevia para seu próprio blog, Cupcake's Clothes, me vem à mente como um exemplo. A drag queen e comediante, DaCota Monteiro, e a artista multimídia, Jup do Bairro, são nomes que eu colocaria como criadoras de tendências, ainda que dentro de seus nichos.

Mas quem pode dar essa alcunha a alguém? E se elas simplesmente são it girls porque são interessantes, diferentes e carismáticas, essas não são características que uma mulher gorda pode ter?