Nova revolução no agro brasileiro virá com a macaúba

Espécie de coco-babão, a macaúba produz sete vezes mais óleo vegetal do que a soja. Um fundo árabe já investe R$ 15 bilhões em uma indústria na Bahia.

Esta coluna, com extrema alegria, transmite aos seus leitores duas novidades que têm tudo a ver com o reaproveitamento do que parece inaproveitável. 

A primeira novidade é a seguinte: no vizinho município de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, o empresário Pedro Mendonça Júnior criou e opera a Mendonça Borrachas, pequena indústria que transforma pneus inservíveis em piso de borracha ecológico. Braço ESG (de governança social, ambiental e corporativa, na sigla em inglês) da Central das Correias, outra empresa de sua propriedade que, desde 2013, fornece correias transportadoras aos diferentes segmentos da atividade industrial, a Mendonça Borrachas retira mensalmente do meio ambiente mais de 100 toneladas de resíduos de borracha, que são transformados em matéria prima.

“Fabricamos um produto 100% ecológico, reduzindo o impacto ambiental, e geramos receita para os nossos clientes”, como diz Mendonça Júnior.  Os pisos de borracha de sua empresa são produzidos pela trituração de correias e pneus irreversíveis, processo que os transforma em grânulos, que, posteriormente, são convertidos em placas cujas dimensões variam de acordo com a espessura, a cor e outras especificações.

Mendonça enumera as responsabilidades socioambientais de sua indústria: redução do descarte de correias de borracha e de pneus usados; contribuição para a economia circular; produção alinhada com os princípios ESG de governança social, ambiental e corporativa; transformação de resíduos em receitas, gerando emprego e renda; fabricação de pisos 100% ecológicos no Ceará.

A Mendonça Borrachas é comprometida com a sustentabilidade a tal ponto que conquistou o Selo Expobor Brasil, que, além de ser uma distinção, “é um símbolo de excelência na indústria de artefatos de borracha, conferindo reconhecimento e prestígio às empresas e aos profissionais que se destacam pela inovação e qualidade de seus projetos e produtos”, como explica Fernando Mendonça Júnior.

Agora, a segunda novidade, que é esta: a macaúba – espécie de coco-babão que se costuma encontrar nas feiras livres do Nordeste, mas que é muito cultivada no Norte, no Centro Oeste e no Sudeste do país – pode virar, no curto prazo, o novo queridinho do agro do Brasil: ela chega a produzir até sete vezes mais óleo vegetal, por hectare, do que a soja. Desse óleo produz-se, também, o SAF – o combustível sustentável de aviação. 

Resumindo: a produção brasileira de biocombustíveis pode dar uma guinada que colocará o agro brasileiro em posição ainda mais destacada no mundo. 

Rápido no gatilho, o Fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos, está investindo R$ 15 bilhões na empresa Ecelen Renováveis, que já constrói em Mataripe, na Bahia, uma planta industrial que transformará em óleo a popular macaúba brasileira.
 
O site Click Petróleo e Gás, que divulgou esta informação, já anuncia que, nos próximos 10 anos, os investimentos no aproveitamento agroindustrial da macaúba poderão representar R$ 90 bilhões, com a criação de mais de 50 mil empregos diretos, que envolverão a recuperação de áreas degradadas nas regiões onde ela é cultivada – essa região fica na transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rio de Janeiro e uma área que vai do Pará a São Paulo.

Assim como no desenvolvimento da soja, a tecnologia da Embrapa está presente na descoberta de novas sementes da macaúba. Seus pesquisadores acabam de publicar um trabalho científico sobre o assunto, no qual está escrito o que se segue: 

“O desenvolvimento de uma nova cadeia produtiva da macaúba trará ao País uma fonte eficiente de óleo vegetal com altas produtividades e baseada em espécie nativa, além da produção de biomassa celulósica e ração. (...) O reflorestamento com uma espécie nativa como a macaúba – que ocorre em vários biomas brasileiros em regime de consórcio com a pecuária carbono neutro e o uso do óleo vegetal para a produção de biocombustível de aviação – irá conservar os recursos naturais e promover as comunidades envolvidas nessa nova cadeia produtiva.” 

O casamento da Embrapa com o agro deu no que deu: a agricultura brasileira é a melhor, mais moderna e mais eficiente do mundo.