Na China, Lula reúne-se com Xi Jinping. Dólar ou Yuan?

Lula quer que outras moedas, inclusive a chinesa, sejam usadas nas transações comerciais no mundo. E a Bolsa B3 fechou ontem com realização de lucros e queda do minério de ferro

Depois da festa de quarta-feira, quando subiu mais de 4%, a Bolsa de Valores brasileira B3 registrou ontem, quinta-feira, uma leve queda, recuando 0,40%, fechando aos 106.457 pontos. Mas o dólar caiu novamente e fechou o dia cotado a R$ 4,92, com queda de 0,31%. 

De acordo com os analistas do mercado, houve ontem a realização de lucros, ou seja, quem comprou ações por preço baixo durante a semana, vendeu-as no pregão de ontem por um preço maior. 

Esta coluna conhece alguns cearenses que vivem desse negócio de vender e comprar ações na Bolsa de Valores, e ontem eles ganharam dinheiro, novamente. 

Além do movimento técnico de realização de lucros, a B3 caiu por outras causas, uma das quais foi a queda do preço do minério de ferro, o que fez recuar o valor das ações da Vale, maior exportadora de minério para a China, e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). 

Mas o dia de ontem foi negativo também para empresas dos setores de celulose, frigoríficos e até para bancos, cujos papéis também recuaram no pregão de quinta-feira, repercutindo no fechamento dos negócios e levando à queda do índice Ibovespa – uma queda pequena, mas queda.

Nos Estados Unidos, as bolsas fecharam em alta porque o índice de inflação ao produtor veio abaixo do esperado e, ainda, os pedidos de seguro-desemprego aumentaram, o que é sinal de que a inflação norte-americana está recuando, a ponto de já se falar numa possível recessão da economia daquele país.

Só a notícia dessa possível recessão contribuiu para a queda do dólar nos mercados internacionais e, também, para a derrubada dos preços das commodities, como o minério de ferro.

A consequência dessa notícia será, provavelmente, ou a manutenção das atuais taxas de juros da economia dos Estados Unidos, ou uma pequena redução. Isto será decidido na próxima reunião do Federal Reserve, o Banco Central de lá, que acontecerá nos primeiros dias de maio.

Mas a notícia da área econômica que mais repercutiu ontem no Brasil e no exterior foi a sugestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, logo apoiada pela presidente do Banco dos Brics, Dilma Rousseff, de que não deve ser o dólar a única moeda a ditar o valor das exportações e das importações no comércio mundial. 

Lula sugere, no caso dos negócios do Brasil com a China, que seja utilizado não o dólar, que é emitido pelos Estados Unidos, mas o Yuan, a moeda chinesa. Tanto em Pequim como em Brasília, a ideia do presidente Lula teve favorável repercussão. 

Porém, não será fácil implementá-la.

Hoje, 90% das transações comerciais no mundo, inclusive na China, são realizadas com base no dólar. Um pouquinho desses negócios é feito com base no euro. 

Mudar isso será difícil, apesar de o Yuan já ser usado como moeda em 7% das transações comerciais da China com seus parceiros. Havia 20 anos, esse percentual era de apenas 1%, o que revela a força da economia, da moeda e do governo da China.

Um estudo do FMI revelou que, entre 1999 e 2019, os negócios de exportação e importação feitos por países das três américas tiveram o dólar presente em 96% das transações. 

O Brasil e a China poderão quebrar essa tradição, pois os dois países estudam a possibilidade de eleger o Yun chinês como moeda para suas transações. 

No dia 30 de março passado, a empresa francesa TotalEnergies tornou-se a primeira empresa ocidental a receber o Yuan chinês pela venda de 65 mil toneladas de gás liquefeito dos Emirados Árabes Unidos para a estatal chinesa CNOOC. A transação foi mediada pela Bolsa de Petróleo e Gás Natural de Xangai.

O presidente Lula pretende que o Brasil, como apoio chinês, passe a fechar transações comerciais com a China tendo o Yuan como moeda de valor. O governo do presidente chinês Xi Jinping está ouvindo como música as sugestões do presidente brasileiro. 

E hoje, sexta-feira, 14 de abril, o presidente Lula terá encontro em Pequim com o seu colega chinês Xi Jinping. Os dois assinarão vários acordos comerciais, mas o que mais atrai a atenção da mídia e dos observadores internacionais é o texto do comunicado conjunto que será divulgado após o encontro.