Levantam-se dúvidas sobre a viabilidade econômica do projeto de implantação, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, de um Hub de produção do Hidrogênio Verde. Um dos últimos argumentos levantados pelos duvidosos diz respeito ao alto custo do investimento – três vezes maior do que o do equivalente, que é o Hidrogênio Cinza, assim chamado porque produzido com o uso de combustíveis fósseis.
Segundo esse argumento, só terá retorno um projeto de H2V que tiver subsídio do governo. O dos Estados Unidos, por exemplo, oferece um subsídio encantador – US$ 3 por quilo do H2V. Talvez por isto ou por causa disto, lá o Hidrogênio Verde prospera. Eis um problema.
Esta coluna recorreu, mais uma vez, ao engenheiro José Carlos Braga, que é especialista em energia renovável e sócio e coordenador técnico da Cactus Energia Verde, que tem pré-contrato celebrado com o Complexo do Pecém para construir nele uma unidade de produção do H2V.
Sobre o assunto e em resposta ao questionamento da coluna, José Carlos Braga transmitiu a seguinte mensagem:
“Em tese, esse argumento estaria correto. Todavia, é necessário considerar alguns fatores em relação aos Estados Unidos:
“1) O Hidrogênio Vinza é obtido a partir de fontes 100% poluentes, enquanto o Verde nasce da eletrólise, ou seja, com zero por cento de poluição. Portanto, é falso afirmar que ambos têm as mesmas características;
“2) O nosso custo de energia verde é mais competitivo” (em relação ao dos EUA e a qualquer outro país);
“3) Os incentivos fiscais (subsídios) diretos e indiretos na Zona de Processamento para Exportação – a ZPE do Pecém – serão muito relevantes;
“4) O H2V produzido aqui no Ceará irá, inicialmente, suprir demandas a partir de Roterdã, cujos subsídios europeus são equivalentes, ou até maiores, do que os dos EUA, os quais serão refletidos nos leilões que ocorrerão já a partir de março deste ano de 2024, notadamente devido à dependência do gás russo;
“5) A cadeia produtiva a ser implantada em função do H2V no Pecém suscitará a formação acadêmica de alto nível bem como a geração de empregos de qualidade, compatíveis com a indústria 4.0 a ser propalada na terra cearense;
“6) Estima-se que, por volta de 2030, ocorrerá o ‘break even’ (ponto de equilíbrio) do Hidrogênio Verde em relação ao Cinza, elevando-se geometricamente a produção do H2V, tornando-o, de fato, o petróleo do século XXI.”
Para esta coluna, nada mudou desde outubro do recente 2023, quando a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) promoveu no Centro de Eventos a segunda edição do Fiec Summit Hidrogênio Verde. Isto significa dizer que o que segue existindo, na verdade, é uma grande e crescente expectativa em torno do tema, sem que, na prática, tenha sido iniciada qualquer obra física de uma unidade industrial projetada para produzir H2V no Pecém.
Para agravar o cenário, o Congresso Nacional ainda não tornou clara a questão da regulamentação da produção do Hidrogênio Verde e da geração de energia eólica offshore (dentro do mar). Na opinião de um deputado federal cearense enfronhado nas questões ligadas à transição energética, “tudo ainda está indefinido, embaralhado”.
Num ambiente de negócio pintado com duvidosas cores escuras, o investidor da área de energia – seja ele brasileiro ou estrangeiro, com ou sem Memorando de Intenção – prefere aguardar o verde da esperança para, só então, decidir onde e quando investir.
Pelo andar da carruagem que carrega o projeto do Hub do H2V do Pecém, o investidor – Fortescue, Casa dos Ventos, Qair e Cactus Energia Verde, por exemplo – terá de esperar um pouco mais, porque neste mês de janeiro o Parlamento está em recesso, só retornando à atividade normal no dia 1º de fevereiro.
Deve ser lembrado que o Brasil não é para principiantes.