Surgem histórias sobre o projeto de construção da Ferrovia Transnordestina, que – na origem, em 2006 – pretendia unir as áreas de produção agrícola do Sul do Piauí aos portos de Suape, em Pernambuco, e de Pecém, no Ceará.
A estrada de ferro teria 1.700 quilômetros de extensão, dos quais 1.200 desde a geografia piauiense até o terminal portuário cearense.
Na semana passada, um aditivo contratual celebrado pela empresa concessionária Transnordestina Logística com a ANTT – Agência Nacional de Transportes Aquaviários – eliminou do projeto o trecho de Salgueiro a Suape, com o que ficou apenas o trecho ligando Eilizeu Martins, no Piauí, a Pecém, passando por Salgueiro.
Esta coluna, imediatamente depois de divulgar ontem esta informação, recebeu uma mensagem de áudio do engenheiro agrônomo José Maria Pimenta, ex-presidente da Ematerce-Ceará, contando um fato que diz bem da longevidade desse caminho de ferro, que vem sendo executado desde 2006, tendo consumido, até 2018, mais de R$ 7 bilhões, dois terços dos quais oriundos de fundos de investimentos do Nordeste, como o Finor.
Pimenta contou que, há 15 anos, recebeu a visita de engenheiros a serviço da Transnordestina, que levantaram a área de sua fazenda, no município cearense de Quixeramobim, pela qual os trilhos da ferrovia deveriam passar – e passarão.
Feito o levantamento topográfico, os engenheiros propuseram-lhe um valor financeiro pela desapropriação dos poucos quilômetros que a fazenda perderia para a Transnordestina.
A proposta foi imediatamente aceita, sem qualquer contestação.
“Mas por que o senhor aceitou nossa protesta sem contestá-la?”, indagou um dos engenheiros.
“Porque daqui a 30 anos essa obra não se realizará”, respondeu José Maria Pimenta, que algumas semanas depois embolsou o valor da desapropriação.
Hoje, na sua fazenda – onde deveriam estar assentados os trilhos da ferrovia – ele mantém um rebanho bovino e caprino leiteiro de qualidade que lhe garante o que chama de “uma renda e uma vida dignas”.
Pimenta acrescenta:
“Se, um dia, quem sabe, as obras da Transnordestina chegarem aqui, ficarei feliz, pois estarei colaborando com muita alegria prazer para o desenvolvimento econômico do meu Ceará”.
A informação divulgada ontem por esta coluna sobre a decisão tomada pela Transnordestina Logística e – empresa do Grupo CSN, controlado pelo empresário Benjamin Steinbruck – de desistir do trecho da ferrovia entre Salgueiro e o porto de Suape, concentrando sua atenção e seu investimento no trecho de Salgueiro a Pecém, em execução pela Construtora Marquise – teve repercussão positiva entre empresários da indústria e da agropecuária do Ceará.
Para o ex-presidente da Fiec, Beto Studart, o cronograma de implantação da ferrovia e os investimentos da Transnordestina no Ceará ganharão mais velocidade, uma vez que estarão adequados ao planejamento estratégico da Companhia de Desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP S/A), o qual, por sua vez, está em linha com o projeto de instalação do Hub do Hidrogênio Verde a que já aderiram várias empresas estrangeiras, entre as quais a gigante australiana Fortescue.
Ao priorizar seus investimentos no Complexo do Pecém, em cujo porto pretende construir um Terminal de Múltiplo Uso (TMUT) e, no seu redor, um centro de recebimento e distribuição de cargas, a Transnordestina Logística e sua ferrovia completarão uma sofisticada infraestrutura de transporte, unindo os modais marítimo, ferroviário e rodoviário.
O porto do Pecém e seu complexo industrial, do qual faz parte a Zona de Processamento de Exportação – a ZPE Ceará, única do país instalada e em operação – tornar-se-ão a uma só tempo, com a decisão da Transnordestina, um importante centro importador e exportador regional e o principal polo nordestino de produção de Hidrogênio Verde, o combustível do futuro.
Deve ser lembrado que há 24 Memorandos de Entendimento celebrados pelo governo do estado com igual número de grandes empresas nacionais e internacionais, cujos projetos são todos voltados para a produção do H2V no Pecém e, também, para a geração de energia eólica offshore (dentro do mar) e onshore (em terra firme).