Ganhou repercussão nacional a entrevista exclusiva que o presidente Lula concedeu ontem à Verdinha e à TV Diário, durante a qual renovou as críticas ao Banco Central, cujo Comitê de Política Monetária decidira, na véspera, manter inalterada a taxa básica de juros Selic, que segue no patamar de 10,50% ao ano.
Lula disse que, com essa decisão, o Banco Central quis agradar aos bancos e aos banqueiros e decidiu investir no sistema financeiro.
Falando logo após desembarcar em Fortaleza e no mesmo instante em que prosseguia o pregão da Bolsa de Valores em São Paulo, Lula respondeu às boas perguntas das competentes e instigantes jornalistas Jéssica Welma e Paloma Vargas, e o que ele disse teve imediata repercussão nas operações da Bovespa.
Para o presidente da República, não faz o menor sentido o acionista minoritário da Petrobras ser isento do Imposto de Renda ao receber seus dividendos.
"Esses dias fiquei meio nervoso porque nós pagamos R$ 45 bilhões de dividendos para os acionistas minoritários da Petrobras. R$ 45 bilhões e não paga um centavo de Imposto de Renda. E você, Jéssica, depois de trabalhar o mês inteiro no microfone da Verdinha, você vai receber o seu salário e vem descontado 27,5% de imposto de renda”.
Lula lembrou, também, que o trabalhador que tem participação no lucro da empresa recolhe, igualmente, o Imposto de Renda, mas quem recebe dividendos está isento do tributo. E recitou seu mantra, ao repetir que, neste país, quem vive de dividendos está livre da mordida do leão do Imposto de Renda, mas quem vive de salário paga o imposto, e isto não está correto.
O presidente revelou que o seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já está estudando, com sua equipe, a possibilidade de serem feitos ajustes na política de cobrança de tributos, o que tem de passar pela apreciação do Congresso Nacional.
Diante da entrevista de Lula à Verdinha, o pregão da Bovespa registrou altas e baixas. Antes da fala presidencial à Verdinha, a bolsa operava em alta de 1%, mas, depois do que disse o presidente Lula, ela desceu e fechou com leve valorização de 0,15%, aos 120.446 pontos, enquanto o dólar escalou e encerrou o dia cotado a R$ 5,46, dando sinais de que não cairá tão cedo. Há, aliás, quem aposte que a moeda norte-americana poderá chegar aos R$ 5,50.
A performance da Bolsa de Valores brasileira ontem foi beneficiada pelas ações da Petrobras, que tiveram alta de 1,58%, e da Vale, que se valorizaram 0,90%. Se não fossem os papeis dessas blues chips – que são as ações de grandes empresas já consolidadas e, por isto mesmo, mais negociadas – o índice Bovespa teria fechado em baixa.
Os economistas, os operadores do mercado e o mundo político começam a debater sobre a sucessão do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, cujo mandato se encerrará no dia 31 de dezembro deste ano, assim como o mandato de outros cinco diretores da instituição.
As apostas, hoje, favorecem o nome de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do Banco Central, indicado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e referendado pelo presidente Lula. Galípolo foi secretário-executivo do ministério da Fazenda antes de chegar à diretoria do Banco Central.
Hoje, o Banco Central, como eu já disse aqui, tem cinco diretores nomeados pelo ex-presidente Bolsonaro, e quatro nomeados pelo presidente Lula. Com a saída de Campos Neto, Lula tratará, logo no início de 2025, de nomear pessoas de sua confiança para compor toda a diretoria do banco, cuja independência o incomoda.
Lula tem dito e repetido que o Banco Central não pode ser completamente independente, e isto incomoda o mercado, que teme o uso político e não técnico da Autoridade Monetária. E ainda tem reforçado seu discurso de que os juros precisam ser reduzidos, porque a inflação está sob controle.
A inflação está dando sinais de alta, e tanto é verdade que os dois últimos boletins Focus apontaram uma elevação do IPCA, índice oficial da inflação brasileira, que passou neste ano de 3,90% para 3,96%. A meta de inflação, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3%, podendo variar um e meio ponto percentual para cima e para baixo.