Empresários preocupados com o rumo da economia cearense

Em vez de austeridade, o governo de Elmano Freitas aumenta a máquina pública e amplia os gastos, desvinculando-se da matriz fiscal que vigora desde março de 1987

Segundo o jornalista Inácio Aguiar, editor de Poder deste Diário do Nordeste, citando a Secretaria da Fazenda como fonte, a arrecadação tributária do governo do Ceará registrou queda de 8,6% nos dois primeiros meses deste ano. 

Para complicar o quadro, foram eliminadas três mil vagas de emprego em janeiro. E, no ano de 2022, o PIB estadual foi de apenas 0,96%, bem menos do que o PIB nacional, que bateu em 2,9%. 

O bom senso indicaria que, no começo de sua gestão, o governador Elmano de Freitas adotaria medidas de austeridade, como as que adotaram, na mesma época, os seus antecessores. Mas, até agora, o que houve foi o incremento das despesas.

Cerca de 10 novas secretarias foram criadas, cada uma com sua Secretaria Executiva e com um conjunto de cargos comissionados, ampliando o gasto com a folha de pessoal. O objetivo foi o de assegurar – como assegurada já estava – grande e sólida base de apoio no Poder Legislativo. 

Junto ao empresariado, com o qual esta coluna tem contato diário por dever de ofício, o crescimento da máquina pública estadual com finalidade puramente fisiológica repercutiu mal. 

Primeiro, porque foi ferida, gravemente, a matriz fiscal que se instalou no Ceará desde março de 1987, quando foi determinado que o governo só pode gastar o que é arrecadado. Segundo, porque, diante dessa gastança atual, sobrará muito pouco para os investimentos necessários na educação, na saúde, no saneamento e na infraestrutura. 

Um empresário da agroindústria disse à coluna que sua empresa, com mais de 600 empregados, tem apenas três diretores, um dos quais é seu sócio, sendo fácil reunir-se com eles diariamente para tocar o negócio.  

“Agora, imagine como seria se, em vez de três, minha empresa tivesse 35 diretores? Fico pensando na ginástica mental e física que o governador do Ceará tem de praticar todos os dias para administrar uma máquina pública na qual há de tudo, até as traições da política. Uma máquina enxuta, com gente competente ocupando os principais postos de comando, produz mais e melhor e a custo baixo; uma máquina pródiga em benesses, ao contrário, reduz a produtividade, alarga o gasto, atrai o vírus da incompetência e instala o desarranjo nas finanças. Há sinais de que tudo isso começa a acontecer no governo estadual depois de 36 anos de bons exemplos de austeridade fiscal”, comentou o empresário.

De 1987 até agora, o governo do Ceará foi modelo de gestão, começando por honrar todos os seus contratos. 

No início dos anos 90, o governo cearense comprou os títulos de sua dívida que estavam em poder de terceiros. Na mesma época, no plenário da ONU, o Ceará recebeu o maior prêmio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) – o Maurice Pate – por haver reduzido a mortalidade infantil. 

O Ceará construiu um porto marítimo no Pecém que hoje é um dos mais eficientes do país. 

Por sua austeridade e fidelidade aos contratos, o governo do Ceará atraiu grandes empresas – a CSP, que hoje é a ArcelorMittal Pecém, é só uma delas – e tudo isso foi possível porque o estado manteve suas contas em ordem, honrando seus compromissos aqui e no exterior.

Este comentário é efeito do que, nas rodas de empresários da indústria e da agropecuária, se comenta a propósito do rumo que o governo estadual está dando às atividades econômicas. 

Há o temor, que é crescente, de que trabalhar e produzir no Ceará não seja mais uma atividade tranquila. Com menos de três meses de vida, o governo deixa dúvidas sobre sua capacidade de manter ajustadas as suas contas (um empreiteiro queixou-se a esta coluna de que está sem receber desde janeiro pelos serviços prestados ao estado por sua empresa; ele contou, porém, que alguns empreiteiros têm recebido em dia, mas isto acontece também em outros estados). 

O governador Elmano de Freitas, segundo anunciou a imprensa, integrará a comitiva do presidente Lula em sua viagem à China, que se iniciará no próximo sábado. Leva-o a Pequim a possibilidade de atração de uma empresa chinesa que desejaria implantar, no Brasil, projetos de geração de energias renováveis. 

O governador dará uma grande notícia aos cearenses se, ao retornar dessa viagem, puder anunciar um investimento chinês, por exemplo, na área de energia solar fotovoltaica. 

Aqui é o domicílio do sol.