Há um clima de otimismo rondando a economia e os agentes econômicos brasileiros. A inflação mantém viés de baixa – o IPCA de março veio no patamar de 0,16%, surpreendendo o mercado que projetava uma alta de preços de 0,25%.
Assim, a inflação anualizada – de março de 2023 a março de 2024 – está em 3,93%, ou seja, dentro da faixa de tolerância estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e vigiada pelo Banco Central -- que é de 1,5% para cima ou para baixo dos 3% fixados como meta.
As projeções para o Produto Interno Bruto deste 2024 mantém-se entre 1,80% e 1,90%, mas o próprio governo está apostando numa alta de 2,2% para o PIB no fim do ano.
Neste momento, porém, pairam aqui algumas preocupações. A primeira delas é com a economia dos Estados Unidos, que está aquecida apesar do esforço do Federal Reserve (FED), o Banco Central de lá, para reduzi-la via juros altos.
Na quarta-feira, 10, o índice de preços ao consumidor relativo ao mês de março, nos EUA, veio forte – 0,4% -- mais forte do que projetava o mercado – 0,3%. Isto sinaliza que a autoridade monetária norte-americana adiará para o segundo semestre o início da redução da taxa de juros diretores de sua economia, e isto tem repercussão no Brasil.
Quando os juros dos títulos do Tesouro dos EUA estão altos, os investidores correm para eles em busca de 1º) um porto seguro para o seu dinheiro e 2º) rentabilidade garantida para os seus investimentos. Esse movimento fortalece o dólar – que é impresso nos EUA – e desvaloriza outras moedas, entre as quais o Real brasileiro.
Na mesma quarta-feira em que a inflação americana veio com alta maior do que a projetada pelo mercado, o dólar no Brasil deu um salto de 1,48%, chegando a R$ 5,08, cotação mais alta dos últimos seis meses. O Real tenta reagir, mas, pelo andar da carruagem, vai ficar por mais tempo passeando entre os R$ 5 e os R$ 5,08.
O otimismo entre os agentes econômicos tem outro motivo: o governo do presidente Lula encaminhará nos próximos dias ao Congresso Nacional os projetos-de-lei que regulamentarão a Reforma Tributária, cujo texto básico foi aprovado no ano passado. O mercado sonha com a aprovação dessa reforma.
As propostas complementares terão de ser debatidas e aprovadas ainda neste primeiro semestre, pois o segundo será todo dedicado à campanha eleitoral municipal, algo que mexe com governadores, senadores e deputados.
Por que, então, o presidente Lula tem sua popularidade em queda, como atestam as últimas pesquisas de opinião? Resposta: porque os preços as coisas, principalmente alimentos, aumentaram.
E, também, porque há uma questão grave, que é a política fiscal do governo, que segue gastando mais do que arrecada, e isto é um pecado mortal na relação da política com a economia. Este momento deveria ser de contenção de gastos para facilitar o trabalho de zerar o déficit orçamentário neste 2024. Mas não é isto o que se vê, lê e ouve a respeito do tema. A gastança tem aumentado.
Os jornais estão dizendo que, por instrução do presidente Lula, o governo concederá um aumento de vencimentos superior a 19% a uma parte do seu conjunto de servidores, mas de forma paulatina, até 2026, quando terminará haverá eleição para presidente da República.
É preciso atentar para o fato de que a taxa de investimento do Governo Federal é quase nenhuma, é franciscana, é raquítica. Com as despesas previdenciárias, com o pagamento da folha de pessoal do serviço ativo, com o serviço (juros) da dívida, vão-se dois terços do Orçamento Geral da União. O terço restante inclui os gastos com a manutenção da máquina pública – que inclui saúde, educação, segurança pública, embaixadas do país no exterior etc.
Os brasileiros pagamos impostos de Primeiro Mundo, mas, em troca, recebemos serviços de Quinto Mundo. Se a elite política brasileira fosse só um degrau acima, não teríamos o desequilíbrio das contas públicas que perdura desde 2014.