Para os empresários da indústria e da agropecuária ouvidos por esta coluna, a decisão do governador Elmano de Freitas de trocar o comando da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) – da qual está saindo o deputado estadual Salmito Filho e entrando o ex-vice-governador Domingos Filho, presidente do PSD no Ceará – deve ser entendida como um ato de rotina, embora seja, visivelmente, também, um movimento do jogo de xadrez da política. Afinal de contas, 2026 – um ano eleitoral importante – está chegando mais rapidamente do que se esperava.
As fontes com as quais esta coluna conversou a respeito do tema deram mais ênfase ao agradecimento, pelos bons serviços prestados, ao secretário Salmito Filho do que à chegada do novo titular da SDE, cujas responsabilidades envolvem um caleidoscópio de desafios – da infraestrutura de transporte às energias renováveis, do Complexo Industrial e Portuário do Pecém à implantação de um Hub de produção do Hidrogênio Verde, dos diferentes ramos da agropecuária familiar e empresarial à Indústria 4.0.
O presidente da Federação das Indústrias (Fiec), Ricardo Cavalcante, transmitiu à coluna uma mensagem na qual afirma:
““Soube hoje, quinta-feira, 26, pela manhã, do anúncio, feito pelo governador Elmano de Freitas, da nomeação de Domingos Filho para a posição de secretário de Desenvolvimento Econômico. Nós, da indústria, agradecemos ao ex-secretário Salmito Filho pelo grande trabalho feito à frente da pasta. A Fiec, como sempre, espera que a parceria da iniciativa privada com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico seja prioridade para o crescimento industrial e a ambiência de negócios do Ceará."
Por sua vez, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), Amílcar Silveira, foi curto nas palavras, mas certeiro no alvo. Ele disse:
“Minha expectativa em relação ao novo secretário Domingos Filho é de que ele prosseguirá o trabalho desenvolvido pelo deputado Salmito Filho, que é um homem sério e que muito ajudou o setor produtivo”.
Em uma rede social, o presidente da Faec foi além, dizendo sobre Salmito Filho: “Obrigado pela sua dedicação e pelos avanços do agro no Ceará. Sua parceria foi fundamental. Seus esforços, encaminhando os pleitos do agro junto ao governador Elmano de Freitas, que tem nos ajudado muito, fizeram a diferença no nosso setor. Foi o melhor secretário de Desenvolvimento e, na minha avaliação, o melhor gestor do governo.”
Vamos por partes. Domingos Filho é um líder político experiente e sua presença no governo fortalecerá a já muito forte base de apoio do Poder Legislativo ao Executivo. Este é um lado da questão. O outro lado são os reptos que põem à prova o titular da SDE, qualquer que seja ele. O primeiro deles é o de revelar capacidade de atrair novos investimentos para o Ceará.
Para isso, o líder do PSD cearense terá de pedir emprestada a agenda de contatos do antecessor para sequenciar as negociações com grandes investidores nacionais e estrangeiros com projetos a executar ou em execução nos diferentes setores da economia cearense, destacadamente na produção do H2V e na geração de energia eólica e solar fotovoltaica.
O novo titular da SDE terá de chupar cana e assoviar ao mesmo tempo, ou seja, terá de dedicar-se aos duros afazeres da pasta, sem prejudicar o interesse político que o levou ao cargo. Em linguagem de arquibancada: tem de prestar atenção ao projeto de mais uma expansão do Complexo do Pecém – principalmente do seu porto marítimo – e, simultaneamente, receber em seu gabinete deputados, prefeitos e vereadores municipais para o encaminhamento das reivindicações paroquiais. É assim na política, e isto não é ruim quando feito com transparência. Essa transparência terá de existir, também, por força da Autoridade Portuária de Roterdã, sócia com 30% do capital da CIPP S/A. A propósito: o Porto do Pecém precisa de ampliar seu leque de clientes e, para isto, será necessário chacoalhar a área comercial para enfrentar a concorrência crescente de Suape.
De Domingos Filho – um homem de reconhecido prestígio político – a indústria, o agro e o comércio esperam muito. Por enquanto, o que há é muita expectativa em torno de grandes projetos privados já anunciados e ainda não implementados.
Caberá a ele essa implementação.