Desconfiando do governo e mais ainda de sua política fiscal, o mercado financeiro não recebeu com simpatia o que disse ontem o presidente Lula ao falar, no Rio de Janeiro, para centenas de empresários reunidos no Hotel Copacabana Palace em um evento promovido pelo Fundo Soberano da Arábia Saudita e que juntou investidores globais e do Oriente Médio.
Lula afirmou que seu governo está fazendo o dever de casa para colocar em ordem as contas públicas e garantir o equilíbrio fiscal. E assegurou que o Brasil tem algo de que o investidor mais gosta: a estabilidade.
“Isto o Brasil tem de sobra”, disse Lula.
Ele acrescentou, ainda, que “o aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público”.
Lula, em nenhum momento de sua fala, referiu-se à necessidade de cortar as despesas do governo, preferindo dizer que será a arrecadação tributária aumentada que garantirá o equilíbrio.
Ao dizer que a redução dos juros também será importante para o equilíbrio fiscal, Lula deixou claro que a próxima diretoria do Banco Central, que terá maioria para o governo no início do próximo ano, tratará de reduzir os juros em percentual e em velocidade maiores do que os da atual diretoria presidida por Roberto Campos Neto.
O mercado tem como certa a indicação do economista Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, para substituir Campos Neto na presidência do Banco Central. Hoje, a diretoria do BC tem 5 diretores indicados pelo ex-presidente Bolsonaro e 4 indicados pelo presidente Lula.
Para que se tenha uma ideia de como o mercado não dá crédito ao que diz o governo, basta dizer que ontem, à tarde, logo após a fala do presidente no encontro com empresários globais, a Bolsa de Valores aprofundou sua queda, fechando com forte recuo de 1,40%, aos 119.936 pontos.
E o dólar, que na terça-feira fechara cotado a R$ 5,36, encerrou o dia de ontem cotado a R$ 5,41, uma alta de 0,86%.
Contribuíram para o pessimismo no mercado as informações que procedem de Brasília, dando conta de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poderá ser substituído. De acordo com as especulações, os ministros com gabinete no Palácio do Planalto e mais o comando do PT estão insatisfeitos com a atuação de Haddad.
O governo, em apenas um dia, a terça-feira passada, experimentou duas derrotas: anulou a licitação do Ministério da Agricultura para importar 1 milhão de toneladas de arroz e fê-lo porque surgiu suspeita de corrupção (o filho do secretário da Agricultura do Ministério da Agricultura seria sócio de uma das três empresas ganhadoras); e viu o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, devolver ao Palácio do Planalto a Medida Provisória que limitava créditos do Pis/Cofins.
Ontem, sem dar trela a essas informações, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que todo o governo está empenhado em zerar o déficit das contas públicas ainda neste exercício de 2024, mas o mercado também não deu importância ao que ela disse.
Mas, ontem, uma boa notícia veio do Supremo Tribunal Federal: os ministros do STF, por 7 votos a 4, decidiram que o saldo do FGTS passará, a partir de agora, a ser corrigido pela inflação medida pelo IPCA do IBGE, e ainda estabeleceram que a correção será vinculada à Taxa Referencial, a TR, mais 3% com garantia de ganho da inflação.
A decisão do STF não será retroativa e só valerá para depósitos efetuados a partir de janeiro de 2025.