Atenção, carcinicultores do Nordeste, principalmente do estado líder da produção de camarão do Brasil – o Ceará! Por meio de dumping, o Equador, segundo maior produtor mundial, quer desovar no mercado brasileiro seus excessivos estoques de camarão.
Isto é uma ameaça para a carcinicultura nordestina, que gera emprego e renda para a população mais necessitada. A cadeia produtiva do camarão no Brasil (leia-se no Nordeste) representa negócios da ordem de R$ 6 bilhões, gerando cerca de 130 mil empregos diretos e indiretos.
Em 2022, a carcinicultura nordestina concentrou 99,6% do total da produção nacional, ou seja, 112,8 mil toneladas.
O Estado do Ceará foi o maior produtor nacional, com 61,3 mil toneladas, 54,1% do total produzido no País. Na sequência, vieram Rio Grande do Norte, com 25,2 mil toneladas (22,2%), e Paraíba com 7,2 mil toneladas (6,4%).
Estima-se que no Brasil 75% dos produtores rurais de camarão são micros e pequenos, que trabalham em área menor do que 10 hectares; 20% são de médio porte (áreas entre 11 e 50 hectares); e 05% são grandes com área superior a 50 hectares.
Segundo o Censo 2021, o setor da carcinicultura no Ceará teve uma evolução expressiva nos últimos 10 anos: o número de fazendas aumentou 450%, saindo de 325 produtores para 1.786 em 2021, sendo a perspectiva atual de aproximadamente 2 mil produtores, a maioria sustentada por micros e pequenos empreendimentos, que, juntos, somam 82,2% desse total.
Outro aspecto que chama atenção é o potencial de distribuição de renda do setor, cuja abrangência geográfica nos últimos 10 anos teve um acréscimo de 181%, passando de 21 municípios em 2011 para 59 em 2021.
Muito desse crescimento no Ceará tem se dado no interior do Estado, em terras que deixaram de ter água doce, no rio Jaguaribe, e passaram a desenvolver-se com água salobra, do subsolo, fazendo surgir uma atividade nova e pujante.
Toda essa cadeia produtiva brasileira, com todos os empregos gerados, principalmente no Ceará, está ameaçada de sofrer dumping pela importação de camarão abaixo do custo de produção e industrialização, vindo do Equador.
Os equatorianos enfrentam hoje a maior crise de superprodução e de super estoques dos últimos anos. E tentam desovar esses estoques em outros países que já fecharam as portas, como é o caso dos Estados Unidos e do México.
O México, onde o licenciamento ambiental para a carcinicultura é vitalício (no Ceará, a licença vale por até três anos), adotou, na semana passada, medidas anti-dumping para impedir a importação do camarão do Equador.
Em 2005, os mexicanos tinham 28 mil hectares de área para a produção do camarão; hoje, essa área saltou para 130 mil hectares e a produção, neste ano, chegará a 240 mil toneladas – a do Brasil, prevista para 2023, será de 130 mil toneladas.
Esta realidade foi transmitida ontem a um grupo de empresários da agropecuária do Ceará, para os quais falou o empresário e produtor de camarão Santana Júnior, presidente da Associação dos Criadores de Camarão do Piauí, que acaba de retornar do maior seminário internacional sobre carcinicultura do mundo, realizado na semana passada em Guayaquil, no Equador.
Desse evento, participou, também, o vice-presidente da Comissão Nacional de Aquicultura da Confederação Nacional da Agricltura (CNA), Tom Prado, CEO da Itaueira Agropecuária, produtora de camarão no vizinho estado do Rio Grande do Norte, que igualmente externou sua preocupação com a ameaça aos empregos no Ceará e no Nordeste, caso esse dumping equatoriano venha a ocorrer.
A produção mundial de camarão é atualmente de 5,5 milhões de toneladas – o Equador, com 1,5 milhão de toneladas, e a Índia, com 1 milhão de toneladas, respondem por quase 50% dessa produção.
Essa superprodução, porém, encontrou um mercado pós-covid com menor poder de compra e com restrições sanitárias na China – que rechaçou centenas de contêineres de camarão procedentes do Equador e ainda descredenciou um considerável número de indústrias de beneficiamento equatorianas, conforme revelou o próprio presidente da Aquacultura do país, Jose Antonio Camposano.
Além da China, há também registros oficiais de contêineres de camarões equatorianos sendo rechaçados pelas autoridades da França por problemas sanitários.
Os números da carcinicultura do Equador impressionam de tão superlativos que são, em volume, mas não impressionam em sua competitividade de custo/kg produzido, que são equivalentes aos do Brasil!
Resumindo: o Brasil (leia-se o Nordeste) tem uma produção com custos competitivos com o Equador, em condições normais de mercado. A questão atual é o dumping, que é a venda abaixo do custo de produção, em função da superoferta do Equador, tema que foi tratado na “Aquaexpo”, maior evento da carcinicultura do Equador, realizado na semana passada.
No Equador, a produção prevista para este ano de 2023 será de 1,5 milhão de toneladas, mais de 12 vezes a produção brasileira, em uma área de 250 mil hectares.
Lá, como no México, o licenciamento ambiental é vitalício, algo de dar inveja aos produtores brasileiros que têm licenças de apenas três anos em alguns estados e de seis anos em outros.
Os grandes carcinicultores equatorianos usam uma tecnologia que, por meio de um sensor instalado dentro do espelho d’água, libera a quantidade de ração que o camarão solicita, reduzindo custos – são os alimentadores automáticos.
Além disso, os equatorianos têm genética atualizada que permite alcançar um crescimento semanal de 2 a 3,5 gramas, em média, por semana. O Brasil ainda não dispõe dessa genética, e por isto mesmo o crescimento semanal do camarão alcança apenas 1,0 a 1,5 grama por semana, no máximo.
Este é um dos pontos que, segundo apurou a coluna, a CNA pretende estimular com a Embrapa e o Ministério da Agricultura para que o Brasil venha a ter um Plano Nacional da Carcinicultura, liderado por essas entidades e que torne a atividade ainda mais competitiva do que já é.
Segundo Santana Júnior, na abertura do “Aquaexpo” em Guayaquil, o vice-ministro da Aquicultura e Pesca do Equador falou que estavam avançadas as tratativas de exportação do camarão para o Brasil.
Diante dessa ameaça, os governos do Ceará e dos demais estados produtores do Nordeste têm de agir rápido, repetindo o que já fizeram o México e os Estados Unidos, no sentido de que sejam protegidos a carcinicultura brasileira e todos os empregos que a atividade gera hoje.