Conheci meu marido na fila da farofa e ali já sabia que era com ele que queria casar

Quando o insumo no prato acaba, a espera pode ser a melhor forma de começar uma paixão

As pessoas não andam por aí perguntando como um casamento começou. Como o sonho da casa própria virou realidade, quando um filho passou do papel para o berço. Elas geralmente não fazem isso, mas confessemos: é bom saber esses causos da vida alheia. 

Ultrapassa a mera fofoca ou a leve inveja disfarçada de curiosidade. Gostamos porque talvez essas coisas nos deem esperança, nos movam para algum norte, nos façam rir.

Eu ri quando soube da forma como a Natália e o Divo se conheceram. Provavelmente você gargalhará também. Eles trabalhavam na mesma empresa, e era 2015. As chances de se encontrarem eram bastante remotas. 

Ela, contadora, atuava na Administração; ele, na Engenharia. Nenhum amigo em comum, nenhum esbarro nos corredores. Nada. Mas, em algum momento na hora do almoço de um dia limpo, faltou farofa e eles foram buscar. 

“Pode passar na frente”, ela disse para ele na fila. “Não, vou ficar aqui”. Refeitório lotado – aquela balbúrdia de quando todo mundo está com fome – e os dois ali, pareados, aguardando a reposição. Começaram a conversar. 

Alguém rompeu o silêncio porventura comentando sobre a quentura do tempo. O outro engatou e fez perguntas sobre detalhes pequenos e vãos. Quando a farofa chegou, a fome não importava mais tanto. Ficaram com sedinha de ficar perto um do outro. Mas tinha um detalhe.

Natália não estava interessada romanticamente por Divo. Para ela, aquilo foi apenas inusitado, conhecer alguém bacana na fila da farofa. Decerto o cumprimentaria se o visse na empresa outra vez, e até chamaria para que sentasse na mesa com os amigos. Falariam das contas atrasadas e dos sonhos desfeitos. Mas era somente isso, uma companhia adorável.

Divo, não. Se, para Natália, ele chegou perto para talvez conquistar a amiga dela, no íntimo o processo era diferente. Estava apaixonado. Aquele papo regado a gastronomia tinha feito algo bonito com o coração. Por isso, no mesmo dia, enviou uma solicitação de amizade pelo Facebook. Aguardou resposta, e ela veio: Natália aceitou.

“Foi ali que passei a vê-lo como potencial namorado porque, antes, eu só o admirava como pessoa mesmo”. O resto, é fácil de imaginar. Horas e horas de trocas, confissões e risadinhas à boca miúda. Vontade de se ver e rever, de planejar futuros em conjunto. 

Com o tempo, assumiram o namoro inclusive para os chefes no trabalho – algo que cresceu e transbordou para as outras pessoas ao redor. Pouco a pouco souberam que a Natália era do Divo, e o Divo era da Natália. E que, dali em diante, aquele gosto inconfundível de farofa pautaria o sabor da relação.

Foi assim que casaram um ano e quatro meses depois desse início. Frio na barriga no cartório, roupas muito alinhadas, aliança tinindo no dedo. Na cronologia, foi assim: paquera e namoro em 2015/término em agosto de 2016/reconciliação também em 2016 (mas como poderiam viver separados?)/Casamento em março de 2017/Pedro em julho de 2019.

Pedro é Pedro Girão, filho do casal. Hoje tem 4 anos. É a concretização máxima do querer. Ele tem os cabelos fininhos e desalinhados, simpatia no sorriso. Veio depois de outras quimeras realizadas – a viagem para Canoa Quebrada em lua de mel, os réveillons juntos, a convivência ainda mais estreita com a pandemia. Veio no tempo de esticar o tempo.

Na corrida insana dos dias, os três gostam de fins de semana em casa, filmes e pipoca. Não deixaram de lado a importância da conversa, do cuidar em gestos e palavras. Divo, por sinal, adora cozinhar. Talvez ele faça farofa nesta noite, lembrando do bendito dia em que aqueles grãos fininhos e amarelos instauraram um novo universo. O melhor deles.

As pessoas não andam por aí perguntando como um casamento começou. Lindo é ser surpreendido por algo assim.

 

Esta é a história (gastronômica) de amor de Natália Girão e Divo Moreira. Envie a sua também para diego.barbosa@svm.com.br. Qualquer que seja a história e o amor


*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor