Em um processo democrático para definir o futuro de um clube, vimos tumulto, gritos de ordem, vindo de todos os lados e agressões verbais contra mulheres. E nós estamos falando sobre processo democrático!
Problemas dentro de um time de futebol são comuns, principalmente nos dias atuais, mas o que presenciamos ontem durante a assembleia para a votação do novo estatuto do Ceará foi um desrespeito com a minoria.
Dos 350 conselheiros do Ceará, apenas 14 mulheres fazem parte deste rol, um espaço seleto que cada vez mais está difícil ocupar e na oportunidade que elas sobem ao palanque e expressam o voto, no momento mais importante do clube, são xingadas se a opinião for contrária à maioria dos torcedores que estava na arquibancada. E é sempre bom lembrar: estávamos presenciando um processo democrático!
Vem o questionamento: elas estavam participando de uma votação, não poderiam escolher o que acham melhor? Uma parte que votou expressou em alto e bom som a opinião, já outras mulheres preferiram a votação em silêncio e talvez o silenciar foi uma manifestação do receio, já que as represálias estavam vindo. Medo em falar o que pensa, e eu vou sempre lembrar: o processo era pra ser democrático.
Nos clubes brasileiros a participação de mulheres no “congresso” ainda é muito pequena, um dado apresentado pelo GE.GLOBO em 2020, a presença das mulheres em conselhos de times gira em torno de 3,6%, um recorte dos 20 clubes da série A.
Uma minoria que ainda é hostilizada quando tem “voz”.
Durante a votação para a aprovação do novo estatuto do Ceará observamos bem o reflexo disso, o documento com quem votou foi revelado: 1 mulher votou sim a favor da mudança, 2 não compareceram e 9 votaram “não” para o novo estatuto e justamente essas 9 que tiveram opinião contrária foram xingadas para centenas de pessoas.
A desigualdade de gênero ainda é um problema muito visível no futebol, momentos importantes de um clube é que percebemos como é difícil ocupar espaços que de fato e competência temos direito.
“Triste com o que presenciei ontem ainda, é algo que só nós conseguimos entender e sentir. Já é um ambiente tão fechado e só mostra o quanto é hostil. E dessa forma, acaba afastando outras mulheres, elas preferem nem fazer parte. E eu digo até as mulheres com sua própria consciência mesmo, sem influência de terceiros, acabam com medo de entrar pro Conselho. E nós precisamos ocupar espaços, por mais difíceis que sejam, precisamos de mais representantes femininas. É algo que defendo e sempre vou levar como bandeira.”, destacou Janaína Queiroz, conselheira do Ceará