A mensagem chega todos os meses. Apesar de repetir-se, é sempre nova, urgente e verdadeira: "Você viu como a Lua está linda hoje?".
A Lua Cheia, claro, é a favorita daqueles que diariamente a procuram no céu. Nessa fase, a lembrança de que você deveria parar o que está fazendo e vê-la pode aparecer por dias seguidos. Mas também já chegam em dias inesperados, no correr do mês, enquanto a Lua parece descobrir-se das sombras; ou quando é apenas fio, oriental, enfeitado de uma estrela solitária nas últimas horas da tarde.
.O que torna digno de nota um fenômeno que se repete diariamente no céu? Com mudanças quase imperceptíveis, o satélite reprisa seu espetáculo, ciclo a clico, mês a mês, todos os anos, impossível imaginar desde quando. Ainda assim, chamamos os de casa, instamos quem está longe por mensagens, para ver a Lua. Seus apaixonados, e são muitos, a admiram como se a vissem pela primeira vez
A resposta mais exata talvez seja a mais evasiva: sempre foi assim.
O fascínio pela Lua é atestado por mitologias de todos os continentes. Por toda parte, foi deusa, deus ou obra deles. Da Selene da religião da Roma dos césares à Jaci do povo Tupi, das fés antiquíssimas que morreram com seus devotos ao credo ecumênico da astrologia.
Os poetas a tomaram por musa. Mais tarde, as canções se multiplicam numa playlist infinita, onde cabem obras-primas e a cafonice, que nunca está distante das coisas do amor.
Caetano Veloso dedicou-lhe sua "Lua de São Jorge", de 1979. "Brilha nos altares/ Brilha nos lugares/ Onde estou e vou", canta o baiano, falando da beleza, da onipresença e dos dotes místicos do único satélite natural da Terra.
Visto assim, como um lugar, sólido e distante, a Lua fascinou aqueles de espírito aventureiro, que sonharam navegar até ela. No século II, Luciano de Samosata escreveu sobre uma viagem à Lua, em sua obra mais conhecida, "Uma história verdadeira". No século XVI, Dante a descreveu como a primeira esfera celeste e, em "A Divina Comédia", caminhou sobre ela.
Depois deles, vieram historiadores das aventuras de mulheres e homens na Lua. Johannes Kepler, Cyrano de Bergerac, Jules Verne e H.G. Wells foram alguns deles. Cada um fez o leitor conhecer um tipo distinto de selenita (é assim que nós, terráqueos, chamamos os habitantes da Lua). No começo do século XX, o cinema fez os homens voarem até ela, em "Le Voyage dans la lune" (1902), de Georges Méliès.
Em agosto de 1969, astronautas americanos deram fim às fantasias. Alunissaram e registraram sua façanha, sem encontrar nenhum selenita por lá. A ciência tentava dar conta da Lua: descreveu-a como fenômeno astronômico, mapeou sua topografia, investigou como as leis da física agiam sobre ela, teorizaram sua origem.
Mas não conseguiram explicar a razão de seu fascínio.
Hoje é a Lua Cheia. E muitos reencenaremos seu culto. Olhos aos céus, encantados por ela, sem precisar saber o porquê.